sexta-feira, 14 de novembro de 2008

De relance

Uns segundos de relance foi quanto bastou ao olhar para o coração saltar. Saltar não sei bem se é a palavra, porque pareceu mais parar. Durante uns instantes congelou, como se não houvesse amanhã e a eternidade fosse agora.

Esse gelo depressa se transformou em lava quente, prestes a explodir em qualquer direcção. Num instante de segundos, o olhar desviou os movimentos do corpo, que não deixam de marcar um rumo seguro. Caminhando, não olhando, mas sempre vendo, como se a vida fosse um filme que passasse apenas nas laterais do ecrã plano.

Na distância de um segundo, o coração voltou a saltar. Mais calmo, menos explosivo, mas ainda assim ritmado por um compasso de esperança. A esperança de que algo de estranho aconteça. A esperança de que o medo seja apagado e o desejo se construa em segurança.

Mas a segurança não abriga desejos, nem se compadece de futuros incertos. Prefere atravessar a rua, com passos convictos de incerteza nenhuma. E rumar ao porto de todos os abrigos, onde o vento não entra, mas a tranquilidade também não chega.

1 comentário:

S.Soares disse...

Lindo texto, sempre com uma pensamento e uma alma cheia de criatividade....

Gosto"Mas a segurança não abriga desejos, nem se compadece de futuros incertos. Prefere atravessar a rua, com passos convictos de incerteza nenhuma"