Mostrar mensagens com a etiqueta Livros e literaturas. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Livros e literaturas. Mostrar todas as mensagens

domingo, 26 de junho de 2011

Depois de Saramago


«A pior cegueira é a mental,
que faz com que não reconheçamos o que temos à frente.»
                                              in Outros Cadernos de José Saramago


No emaranhado desta semana, muita coisa ficou por dizer, e mais ainda por escrever. Mas por mais que o tempo nos fuja entre os dedos e a actualidade ultrapasse a velocidade dos nossos pensamentos, há emoções que não se perdem na voragem dos telejornais e efemérides a que se volta diariamente. A 18 de Junho completou-se um ano sobre a morte de José Saramago. Depois dele, nada ficou igual na literatura. Mas hoje, como ontem, continuamos a ouvir as suas palavras e a sentir os seus recados presentes. Como se nunca tivesse partido.

Foto retirada de: http://becre-esct.blogspot.com/2010/06/morreu-jose-saramago-nobel-da.html

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Verdadeiramente Nobel!

"Só um idiota pode ser verdadeiramente feliz."

Mário Vargas Llosa,
Prémio Nobel da Literatura 2010



Crédito da foto: EFE

sexta-feira, 18 de junho de 2010

Fugiu para uma ilha sem regresso


A morte de José Saramago deixou-me triste. E a tristeza, que chegou repentina, foi-se instalando, com vontade de ficar. Por mais notícias que veja ou comentários que ouça, nada apaga a sensação de ter perdido uma parte de mim.
Sei que os verdadeiros escritores não morrem nunca, porque a sua obra é eterna. Da mesma forma que sei que os homens não são imortais. Mas confesso que nunca sequer equacionei que Saramago um dia se ausentasse de nós, que pudesse fugir para uma ilha sem regresso.
Sempre pensei que o homem por detrás da escrita fosse ficar por aqui, sempre pronto a provocar-nos, a desafiar as nossas dúvidas, a confundir as nossas certezas, a alargar os nossos horizontes. Porque poucos souberam, como ele, ter esse efeito nas gentes de um povo crente e de brandos costumes.
Tantos o amaram quantos o odiaram. Por ser comunista, por ser ateu, por ser provocador, ou simplesmente por não ter medo de dizer o que pensa em voz alta. A mim, arrebatou-me desde que devorei cada pedacinho do seu "Memorial do Convento", estirada no final de uma adolescência nas areias de Porto Pim, as mesmas onde Tabucchi um dia encontrou a sua inquietude.
Nunca partilhei a visão ideológica de Saramago, nem as suas convicções políticas ou religiosas. Mas foi com o seu desassossego permanente que de certa forma aprendi a não ter medo de questionar as evidências e a encontrar as minhas convicções mais profundas - na política, na religião ou na vida. Vai fazer-me falta a sua clarividência humana. A mim e a todos os que acreditam que só os inquietos vão para além de si.

terça-feira, 8 de junho de 2010

O regresso de Alfred Lewis a casa

“Não é comum encontrarmos um romance que se lê como um poema.
O mundo já quase se esqueceu de ler livros como este. É bom que haja
escritores que ainda não se tenham esquecido de os escrever.”

Patricia Highsmith
Depois do sucesso nos Estados Unidos, a obra maior do escritor e poeta açoriano Alfred Lewis, "Home is as Island" (1951), regressa finalmente a casa. O livro foi traduzido para português por Rui Zink, sob o título "Minha Ilha, Minha Casa", e vai agora ser apresentado nos Açores. O périplo arranca dia 12 de Junho na ilha das Flores, terra natal do autor, passa por Angra do Heroísmo no dia 14, Ponta Delgada no dia 15 e acaba em São Jorge a 19 de Junho. Para todos os que fazem da ilha a sua casa.

terça-feira, 25 de maio de 2010

Darrel Kastin, "o escritor assombrado pelas ilhas"


Darrel Kastin é um escritor californiano pleno de raízes açorianas. Em "The Undiscovered Island", um livro contado a partir do Faial e do Pico, o escritor desvenda o sentir ilhéu dentro de cada emigrante açoriano. Este domingo, o Diário Insular chamou-lhe "O escritor assombrado pelas ilhas" numa entrevista que aqui reproduzo e que é apenas um cheirinho das ilhas dentro dele, para aguçar apetites.


«Como começou a escrever e porquê este título: “The Undiscovered Island”, que, traduzido para português, seria qualquer coisa como “A Ilha por Descobrir”?
Eu nasci e fui criado em Los Angeles, na Califórnia. A minha mãe, Josefina do Canto e Castro nasceu na ilha do Faial. Quando eu era pequeno a minha avó vivia connosco. Ela contava-me histórias acerca da nossa família e sobre os Açores. Em 1968 ou 1969 a minha avó regressou aos Açores mas para viver no Pico, onde tinha vivido até à II Guerra Mundial. Quando eu tinha 15 anos, em 1972, toda a família foi aos Açores. Estivemos lá meio Verão e visitámos Santa Maria, São Miguel, Terceira, Pico e Faial. As ilhas afectaram-me profundamente, não apenas pela sua beleza impressionante, diferente de tudo o que tinha visto até ao momento, mas também ao ver como os pescadores, agricultores e especialmente os baleeiros trabalhavam como se fazia há centenas de anos. Voltei em 1987 e desta vez fiquei três meses e meio. Comecei a escrever histórias que se passavam nas ilhas e depois iniciei o meu romance, intitulado “The Undiscovered Island”.
Porquê este título? Porque representa as chamadas ilhas imaginárias que os exploradores portugueses procuravam. Eram reais? Eram imaginárias? Ou eram usadas para convencer as pessoas que estavam por aí, para confundi-las em relação ao que estas ilhas eram realmente, muito à semelhança do que o rei D. João II fazia, espalhando histórias sobre oceanos que ferviam e o fim dos oceanos? Não sabemos. Existem mais mistérios do que factos relacionados com esse período. Também representa a “Décima Ilha”, imaginada. No romance, o pai de Júlia, Sebastião, diz-lhe e ao irmão que eles são da “Undiscovered Island” (Ilha por Descobrir) porque se dissesse Açores teria também muito para explicar.

O romance tem como palco as ilhas do Pico e do Faial…
Sim. Visitei o Pico e o Faial várias vezes. Encontrei personagens interessantes, pessoas calorosas e com humor. E uma paisagem lindíssima. Não nasci nem cresci lá mas, de uma forma qualquer, o cheio das ilhas, a forma como a luz do sol se sente, o mar, têm-me assombrado ao longo dos anos e quando não estou lá penso em regressar.

Qual é, em resumo, a história do livro?
O livro é sobre uma jovem mulher, nos seus 20 anos, que se dedica à música, chamada Júlia Castro, que vai para o Faial para encontrar o pai, um poeta, que desapareceu. Há terramotos, rumores de barcos fantasma, uma sereia que percorre a costa, cantando na noite, boatos de homens que desaparecem de casa e um homem afogado, encontrado nas encostas do Pico. Também se fala de uma nova ilha que se ergue do oceano. No meio de tudo, Júlia tenta perceber o que o pai andava a fazer e para onde pode ter ido. Conhece um jovem, Nicolau, e descobre um quarto secreto onde o pai escrevia mas onde também coleccionava uma grande quantidade de mapas, registos geológicos, livros e vários instrumentos de navegação antigos. Convencida de que o pai navegou para a nova ilha ou para a “Ilha Encantada” Júlia decide ir em sua busca.

A quem acha que este romance apelará?
Espero que o livro apele a qualquer pessoa interessada nos Açores ou na história marítima portuguesa. E espero que cative quem gosta de livros, também. A narrativa é entrecortada pela poesia de Camões, Pessoa, Quental. Enquanto Júlia desvenda a história da sua família, encontra também o que é descobrir quem é, de onde veio. Ela viveu a sua vida separada não só do país dos seus antepassados mas também desligada da história da sua família.

Que escritores portugueses, açorianos ou não, o inspiram?
Infelizmente o meu português não é suficientemente bom para ler muito na língua original. Inspiram-me Camões, Pessoa, Eça de Queirós, Quental, Saramago, Antunes e Florbela Espanca. Dois açorianos que me inspiram são Zeca Medeiros e Luís Gil Bettencourt. Também há a música de Pedro Barroso, Amália, Zeca Afonso e Dulce Pontes.

Considera que ter raízes açorianas teve influência na forma como escreve, na maneira como encara as coisas?
Absolutamente. Quando descrevo a minha personagem, Júlia, o seu dilema é que não é das ilhas (não nasceu lá), nem dos Estados Unidos. Ela é um ser separado. Pertence ao país que existe entre estes dois. Gosto de pensar que ter raízes açorianas me deu mais imaginação. Sinto-me atraído por ilhas e muito ligado ao mar. Se bem que por vezes é difícil viver como este ser separado, ao mesmo tempo, penso, esta perspectiva ajudou-me a escrever o romance.

Qual é a impressão que tem dos Açores?
Adoro as ilhas, a sua individualidade. Visitei todas excepto a Graciosa e São Jorge, que tenho muita vontade de conhecer. Tenho uma ligação especial com o Pico e o Faial porque foi lá que passei mais tempo. Tenho também uma forte ligação com a Terceira porque foi aí que o meu avô nasceu e que muita da história da minha família se desenrolou. Também me cativam São Miguel, pela beleza, e Santa Maria, onde nasceu a minha mulher.

Que história tem a sua família nos Estados Unidos?
O meu bisavô, Domingos Freitas ou Fraga (usava os dois nomes) foi o primeiro a ir para os Estados Unidos. Ele deixou a família no Corvo nadando até a umas rochas e sendo apanhado por um navio baleeiro americano. Navegou por todo o mundo durante três anos e acabou por ficar em São Francisco. Usou o dinheiro que tinha ganho para comprar uma quinta em Santa Rosa, Califórnia. Depois de casar e constituir família foi para a ilha de onde era natural a mulher, São Jorge e ficou lá. Pode ver que tenho uma ligação com tantas ilhas… A minha avó, quando foi para a América, trabalhou com crianças. Ela e o meu avô, enquanto ele esteve cá, trabalharam em programas de rádio numa emissora portuguesa e escreveram para jornais portugueses. Um tio meu trabalhou muitos anos numa emissora portuguesa em Los Banos, na Califórnia, e outro dirigiu um jornal português na Nova Inglaterra. A minha mãe e tias sempre estiveram envolvidas na comunidade portuguesa.

Para quem escreveu este livro?
Escrevi este livro para as ilhas e para Portugal, com a sua história singular e fascinante. Passei a minha vida toda a tentar responder à pergunta: “O que são os Açores?”. Pensei que o meu romance os pudesse tornar mais reais para que outros os descubram. Acha que os americanos com raízes açorianos conhecem o arquipélago ou há muito desconhecimento?Acho que muitos não conhecem as ilhas ou as suas raízes. Algumas pessoas podem ler o livro e pensar que não passa da obsessão do escritor com a sua família, mas estão erradas. A história da minha família é a história da família de todos os açorianos, todos os portugueses. Todos os portugueses são primos e todos são filhos do Rei Dom Dinis. É isso que penso. A minha família é das classes altas e baixas, tem pobres e ricos, e as ligações com Pedro Álvares Cabral e Afonso Albuquerque, Vasco da Gama ou Colombo não são apenas dela- essa história é de toda a gente.

Pretende escrever novamente sobre os Açores?
Sim, acabei de escrever duas novas histórias açorianas. Uma colecção deve ser publicada em 2011. Espero ficar um longo tempo nas ilhas e estou curioso acerca do que escreverei em resultado disso.»

terça-feira, 18 de maio de 2010

Respirando puro oxigénio


«Por agora, estou aqui. Respiro oxigénio. Chego a sentir aqueles fiozinhos de ar
que passam pelos poros (ouvi isto num lado qualquer ou li numa revista qualquer).
E não importa a forma como acabe. Todas as maneiras são boas.
»

José Luís Peixoto, "Legalize Airlines", in Hoje Não


quinta-feira, 25 de junho de 2009

Do blog para o papel - Daqui a pouco em directo

«O blog vai iluminando o caminho do seu autor, é essa a sua virtude.»


O Caderno de Saramago já deixou de ser só um espaço virtual. Hoje, pelas 18h30, será apresentada em Lisboa a versão livro dos primeiros seis meses de escrita bloguística. O lançamento será marcado por uma conversa entre o Nobel e os jornalistas Isabel Coutinho e José Mário Silva, que será transmitida online para toda a blogosfera. E porque o espírito virtual parece ter encarnado definitivamente em Saramago, o escritor está disponível para responder às perguntas dos leitores da blogosfera. Basta enviá-las para o endereço pergunteasaramago@sapo.pt.

O Caderno de Saramago

«O Caderno de Saramago», o livro do blogue from Fundação Jose Saramago on Vimeo.

quarta-feira, 27 de maio de 2009

O Que Dói às Aves


Com os meus amigos aprendi que o que dói às aves
Não é o serem atingidas, mas que,
Uma vez atingidas,
O caçador não repare na sua queda
Daniel Faria, Poesia.

Epígrafe a "O Que Dói às Aves", o novo livro de poesia de Alice Vieira, lançado hoje pelas 19h00 na Livraria Ler Devagar, em Lisboa. Uma denúncia de sentimentos, relações e vivências feita através de palavras, frases e versos, que chega para as comemorações dos trinta anos da sua carreira de escritora.

sexta-feira, 1 de maio de 2009

Fim-de-semana com livros


O fim-de-semana comprido deu aos lisboetas uma boa desculpa para fugirem da cidade. A mim, deu-me a melhor desculpa para querer lá entrar. É que acaba de abrir a Feira do Livro 2009. Haverá razão mais perfeita?

quinta-feira, 23 de abril de 2009

Almas de papel




Amo os livros como se fossem gente.
Pedaços de vidas sentidas, sofridas,
geradas com a pena do talento criado.
Amo os livros porque desvendam segredos,
pesados, contidos, espremidos a dedo.
Amo os livros porque revelam as almas,
de quem escreve e de quem lê,
de quem sou ou quero ser.

quinta-feira, 9 de abril de 2009

Os regressos imperdíveis de Tabucchi

Entrevistei o escritor António Tabucchi durante a sua passagem pelo Faial em 2002 e tive a oportunidade de testemulhar in loco o seu regresso a Porto Pim 20 anos depois de ter escrito o livro que o celebrizou entre nós.
Agora, "A Mulher de Porto Pim" foi reeditada pela Difel e está novamente nas bancas. Uma oportunidade a não perder por quem ainda não degustou estas suas deambulações pelas ilhas dos Açores.
Quase ao mesmo tempo, a revista Ler deste mês consagra-lhe a capa e uma grande entrevista. São, mais uma vez, dois regressos imperdíveis.

quarta-feira, 25 de março de 2009

O erotismo de João de Melo


Já chegou às livrarias nacionais o novo livro do consagrado escritor açoriano João de Melo. «Luxúria Branca e Gabriela» é um conto erótico com ilustrações de Francisco Simões e a chancela das Edições Nelson de Matos. Uma ediçao única, a não perder.

quarta-feira, 11 de março de 2009

O sentido dos poetas


Estou farta de ouvir falar sobre o que o Alegre político disse ou vai dizer. Prefiro, de longe, falar sobre o que o Alegre poeta escreveu ou anda a escrever. Porque os poetas fazem muito mais sentido do que os políticos.

"Ninguém pode cercar um homem
pelo lado mais puro da sua
alma".
Manuel Alegre, in Che

sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

No lugar dos sonhos


Ontem, um amigo realizou um sonho. E eu quedei-me por entre um misto de inveja e admiração. Observei o homem, folheei a obra e descobri que o segredo é não sonhar. Basta "escrever enquanto todos dormem".

De Herberto para Eugénio, sem esquecer Nemésio

Através do Bibliotecário de Babel descobri no site da revista cultural A.23 a existência de uma carta inédita escrita por Herberto Hélder a Eugénio de Andrade em 2000. A carta, publicada agora a propósito da passagem do aniversário do poeta, pretendia ser apenas um elogio maior à sua obra, mas revela-se uma saborosa e surprendente análise pessoal à poesia do século XX.
«Não há nenhum poeta português que possa ombrear consigo neste meio século», escreve Herberto Helder, para quem «não existe um só verso que deva ser eliminado" em toda a obra de Eugénio.
E por entre os nomes maiores que o irreverente poeta madeirense cita, surge também o mestre Vitorino: «Nemésio, que considero um poeta enorme, possui, quanto a essa "ciência artesanal", algo que é menos isso do que uma estonteante agilidade filosófica e uma perigosa facilidade verbal e versificatória. Nem sempre se aguenta bem com esses dotes».
Sem dúvida, um valioso documento que vale a pena ler na íntegra.

sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

Para morder o coração dos ilhéus


Estarreci às primeiras linhas do romance Morder-te o coração, de Patrícia Reis. «Tu já não te lembras. Foi há dez anos, neste mesmo quarto, a olhar o Pico, os barcos, o azul-cinza do mar calmo(…)». Ninguém me tinha avisado que o livro falava dos Açores.

Continuei a ler e depressa percebi que a «viagem alucinante pelos labirintos do desejo e da solidão», de que falava a contracapa, tinha como cais de partida um quarto de hotel com vista sobre o mar, os barcos e, ao fundo, o Pico.

Confesso que me enchi de orgulho (tolo, mas ainda assim orgulho) por o mote deste pequeno livro de bolso, editado em 2007 pela Booket, ser uma história de amor vivida num Verão Perfeito na ilha (embora o Faial nunca seja nomeado, a referência à marina deixa no ar que hotel é faialense).

Mas a verdade é que o orgulho tolo depressa ficou esquecido na voragem das linhas, feita quase de um trago, sorvendo os sabores, os cheiros e sobretudo os sentimentos que o pequeno romance transpira.
José Eduardo Agualusa chamou-lhe um livro “precioso (e raro)”. E eu poderia chamar-lhe muitas outras coisas, quase todas perfeitas. Mas prefiro antes deixar aqui três pequenos excertos, que me morderam o coração, por serem soberbos na musicalidade, na poesia das emoções e na transparência do sentimento ilhéu.

«Tinhas inveja da ilha por ter mar, por ter liberdade, mas contavas histórias
sobre as barcas nos rios e foi contigo
que aprendi que quem navega
não sabe conversar porque o rio tece mistérios vedados às palavras.»
(
Pag. 12)
«A ilha estava congelada no nosso abraço. Nos teus pensamentos era tudo o que fazia sentido.
Eu tinha um prazo. Uma vida à minha espera, um regresso feito de poucas memórias.
Ficarias em terra, náufrago de mim, sem perceber os destroços de nós.»
(Pág. 14)

«À mesa, encostado a uma almofada gigante, ele contou da ilha, do colégio de padres,
da caça às baleias, da ideia de partir e ainda da tristeza de se ser de uma terra com fim,
como quem vive num precipício, um fugaz pedaço de chão.»
(Pág. 109)

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

As ilhas, segundo Miguel Sousa Tavares

Terminei hoje a leitura de "Equador", o magnífico livro Miguel Sousa Tavares, que devorei numa semana de leitura vertigionosa, vivida com a intensidade dos grandes romances. Sei que o devia ter lido há muito, mas estes quase quatro anos de espera na carregada prateleira cá de casa só fizeram bem, porque me permitiram esquecer os ecos do muito que li e ouvi sobre ele.
Terminei as suas 518 páginas absolutamente exausta, mas estranhamente reconfortada com o trágico final. Ainda no processo de digestão de tão densa obra, retive já uma frase que não esquecerei jamais.
«As ilhas são lugares de solidão e nunca isso é tão nítido como quando partem os que apenas vieram de passagem e ficam no cais, a despedir-se, os que vão permanecer. Na hora da despedida, é quase sempre mais triste ficar do que partir e, numa ilha, isso marca uma diferença fundamental, como se houvesse duas espécies de seres humanos: os que vivem na ilha e os que chegam e partem.»
A estas intensas palavras de Miguel Sousa Tavares, atrevo-me a acrescentar que falta uma terceira espécie: a dos que não conseguem deixar a ilha, apesar de estarem sempre a chegar e a partir. Essa é a minha espécie.

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

Mecenas procura-se!

Quando penso que já poucas coisas me podem surpreender, aparece sempre mais uma para me deixar sem palavras. Alguém me explica como é que, num país com tantos milionários como o Brasil, não há nenhum mecenas capaz de salvar a Fundação Casa de Jorge Amado? Perante a falta de gente capaz de salvar o património cultural de um dos maiores escritores brasileiros, a família do escritor vê-se obrigada a leiloar a colecção de obras de arte do escritor para salvar a fundação. É muito triste!


quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Um escritor para não perder de vista



Primeiro Jacinto Lucas Pires, agora Gonçalo M. Tavares. Definitivamente, a semana está a ser grandiosa para os nossos jovens escritores. A notícia chegou-me pela Ler, mas parece que ontem já estava no Ciberescritas. Contudo, nada vi nos jornais online. Devo estar muito distraída...
O escritor português acaba de ser premiado em Itália com o Prémio Internacional Trieste 2008, atribuído ao livro “1″, originalmente publicado na Relógio D’Água.
Quando o seu livro Jerusalém foi premiado com o Prémio José Saramago, em 2005, lembro-me do Nobel português dizer do autor uma frase simples: "Gonçalo M. Tavares não tem o direito de escrever tão bem apenas aos 35 anos: dá vontade de lhe bater!" Agora, acho que já é tempo de reconhecer: dá vontade de o ler!