terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

Para um Carnaval feliz

Porque a vida são dois dias e diz-se que o Carnaval são três, porque há dias que valem pelo ano inteiro e anos que se resumem num mês, porque há minutos que são eternos e horas que não se repetem, desejo a todos os que por aqui passam um óptimo Entrudo. E aos que tenham dificuldade em ver no Carnaval mais do que uma festa patética, povoada por máscaras e falta de sensatez, desejo que abram o coração, porque nunca se sabe quando nos atingirá a ousadia do inesperado.

«POEMA DE CARNAVAL

Eu estava só naquela tarde e tu vieste
de dentro povoar-me de cidade o coração
prometido para o lugar
onde costumamos deixar as palavras
Tinham posto de novo fitas nas árvores
reuniram-se os corpos e as vozes
para todos juntos sentirem
pontualmente a alegria
E tu ousaste então ó meu pássaro naquele coração
cingido no meio da cidade»
Ruy Belo, in «Antologia Poética - Cidadão de longe e de Ninguém»

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

Em memória de Nemésio


19 de Dezembro de 1901 - 20 de Fevereiro de 1978


Passaram 31 anos desde que Nemésio partiu. Em memória do homem que morreu durante a minha infância mas foi meu mestre na adolescência e juventude, moldando de forma inegável a minha escrita e o meu sentir açoriano, deixo aqui a minha homenagem. Ao poeta maior da açorianidade, ao autor do melhor romance português do século XX, ao comunicador incansável, ao professor que nunca deixou de o ser. Que permaneça eterno!

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

Sem regresso




Depois da primeira partida não há regresso possível.
Passamos a ter para sempre raízes múltiplas,
que tanto nos alimentam a alma e nutrem o espírito,
como nos enfraquecem as forças e roubam a paz aos sentidos.

Lídia Bulcão

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

A queda perfeita


Por entre os dedos desfias contas de areia, dourada como os infindáveis sonhos, negra como os fugidios desejos. Desfias um punhado atrás do outro, numa sequência interminável que não se limita a matar o tempo. Enquanto os dias te escorrem por entre os dedos, gastos pela vida e pelo mar, vês em cada grão o que podias ter sido e não foste. Analisas cada percurso com a minuciosidade das coisas programadas, esquecendo por momentos que o trajecto é nada mais do que a queda perfeita no imenso areal, onde ontem foste um menino feliz.

Variantes deste universo ilhéu


Estar, ficar, partir, voltar. São talvez as variantes mais frequentes deste universo ilhéu. Há uma mão que nos empurra mundo fora e outra que sempre nos agarra na hora da partida. Há um abraço que nos aconchega à chegada e outro que sentimos na lonjura. Há, sobretudo, uma saudade que não se satisfaz com regressos e um vazio que se cumpre na distância.

terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Homem submerso


És um homem submerso. Pela água, pela vida, pela realidade. Nasceste já com o azul no olhar e o verde na alma. Mas deixaste que a negridão te consumisse, com a velocidade das coisas de outro século, vagarosa e demoradamente.

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

Inteiro por fora, partido por dentro

Olho para o fundo do mar e vejo-te a ti, mergulhado nos teus anseios mais profundos, perdido por entre corais e cores brilhantes, sozinho na escuridão imensa, inteiro por fora, partido por dentro. Olho para ti e vejo o homem que um dia foste, o rapaz que ainda és, o menino que serás sempre, perdido nesse mar profundo em busca dos teus momentos cintilantes, enterrando neles os teus sonhos e desejos primeiros.

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

Aquele ponto dorido

«O mais importante nas memórias de homem um pouco peregrino
é esse ponto dorido que o coração acusa quando se lembra do transplante.
Partir, arrancar de um lugar, é pagar o preço da viagem,
que sempre nos sai da pele.»
Vitorino Nemésio, X. A Cidade do Canal, in Primeiro Corso

Crédito da foto: Mário Leal

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

A felicidade de Laborinho Lúcio


De passagem pelo Faial, Laborinho Lúcio defende que
a "felicidade nunca é uma fatalidade", mas antes "uma coisa rara",
que experimenta cada vez que volta aos Açores.
Mais pormenores no novo Fazendo.

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

Caminhos da memória

















Esconsos caminhos os da memória,
que nos levam por entre vitórias
a enterrar dores e tramóias.

Estranha vida, feita de enganos,
empurrada por sonhos estranhos,
vencida por medos tamanhos.