sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Parabéns ao Mente Livre!

Parabéns ao conterrâneo Mente Livre pelo seu primeiro aniversário (celebrado ontem). Numa era em que muitos se calam para não serem prejudicados e outros se tapam com o anonimato para vocifrar contra quem discordam, é bom entrar num espaço onde as ideias têm voz própria. Mais uma prova de que ter uma ideologia política não é, nem tem de ser, sinónimo de colocar um espartilho no pensamento. Levantar questões e reflectir sobre elas é a melhor forma de percorrer o caminho para o futuro e de manter a sanidade nesta sociedade cada vez mais espartilhada. Que venham mais assim!

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Última curta de Manoel de Oliveira no Faial Filmes Fest


Apesar das dificuldades financeiras com que se vem debatendo o Cineclube da Horta, a organização do Faial Film Fest não baixou o padrão de qualidade a que já nos tem vindo a habituar. Manoel de Oliveira vai ser o homenageado da edição deste ano, que arranca dia 31 de Outubro e terá na apresentação do seu último trabalho um dos grandes momentos do certame. Além da curta-metragem de Oliveira, intitulada Painéis de S. Vicente de Fora - Visão Poética, a selecção oficial do Festival conta com 58 filmes, escolhidos de entre um número recorde de participações, que este ano foram alargadas aos países lusófonos. Para ver no Teatro Faialense, até 7 de Novembro.

Uma recomendação para o próximo fim-de-semana

Depois da anunciada ruptura nas negociações entre o Governo e o PSD para o Orçamento de Estado, não há nada que enganar: no próximo fim-de-semana guardem bem as vossas abóboras e vamos mas é todos pedir pão-por-Deus!

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Não há botox que disfarce este Cantagalo!

Hotel do Cantagalo (Foto: LBulcão)

«Depois de me ter espraiado pelos mares do canal Faial-Pico, onde fui nascida e criada, encerrei as minhas férias na Terceira, uma ilha que aos poucos se tem vindo a tornar também minha, por força de laços familiares que aqui me vão trazendo cada vez mais frequentemente. Só neste último ano passei por cá várias vezes e não posso negar que em todas elas me senti em casa, mesmo quando a bruma insistia em esconder o horizonte, negando-me o prazer de saborear a proximidade dos meus vizinhos de infância, São Jorge e Pico.

Seja como for, de viagem para viagem, fui-me deixando apaixonar por esta terra de bravos costumes e farras imensas, onde a folia parece ter a energia do magma e a paz a delicadeza de um néctar inebriante. De mansinho, muito de mansinho, também esta ilha tem vindo a entranhar-se dentro de mim, mostrando-me o que os olhos não alcançam e oferecendo muito mais do que eu esperava. No mapa desta estranha geografia, reencontrei rostos da minha infância e recuperei amizades que julgara soterradas nas ruínas do tempo. E, como se isso não fosse suficiente, ainda me deixei encantar pelos prazeres terceirenses, que me vão arrebatando de forma diferente a cada viagem.

Podia continuar, parágrafo atrás de parágrafo, a descrever os dias que tenho vivido por aqui, perdida por entre a intensidade da maresia e achada perante o peso secular da história que se respira nas fachadas coloridas. Deambular pelas ruas de Angra já se tornou um dos meus passeios preferidos nas noites mais serenas, mas a verdade é que não há bela sem senão. E o que podia ser uma rota perfeita pelo património cuidadosamente recuperado e preservado, ameaça tornar-se uma viagem a duas velocidades, que mistura um passado glorioso com um futuro monstruoso.

Talvez a palavra escolhida seja pesada, mas não consigo encontrar melhor forma de descrever o atentado urbanístico que vai crescendo na sala de visitas desta cidade-património, como se fosse uma planta invasora que ameaça tirar a vida às preciosidades endémicas. Refiro-me, obviamente, à mega-construção que está a desfigurar a face marítima de Angra do Heroísmo - o Hotel do Cantagalo.

Há muito que se adivinhava monstruosa esta frente de betão que se vai erguendo na cidade, pronta para reescrever a História de forma leviana. Mas confesso que a paragem prolongada das obras nos últimos meses me tinha feito acalentar a secreta esperança de que o bom senso dos nossos decisores vencesse a batalha.

Queria acreditar que a coragem e o orgulho do poder terceirense falariam mais alto do que quaisquer outros interesses menos óbvios. No fundo, guardava a secreta esperança de que os responsáveis políticos tivessem bom senso e acabassem por travar o crescimento de tamanho "mamarracho" (que me perdoe o responsável pelo projecto, mas é efectivamente de um "mamarracho" que falamos).

Antes de mais, quero esclarecer que não tenho, nem nunca tive, qualquer preconceito contra a arquitectura moderna, muito pelo contrário. Nos jornais e revistas nacionais por onde tenho passado já escrevi e editei muitos textos rasgados de elogios a magníficas obras de arquitectura contemporânea. E, da mesma forma que sou capaz de avaliar devidamente as linhas de um edifício moderno ou futurista, também sei apreciar o nosso património e o seu enquadramento paisagístico, sobretudo quando falamos de uma cidade que é Património Mundial da UNESCO, um galardão que muito honra os Açores e o resto do País.

Contudo, ao ver que as obras recomeçaram no Hotel do Cantagalo, o que restava das minhas ilusões caiu por terra. Percebi que não há limites para a inconsciência humana. E que aquilo que os nossos antepassados demoraram séculos a construir não tem valor para quem hoje vai gerindo a cidade, de costas voltadas para o futuro, sem réstia de pudor ou qualquer consciência de estar a destruir um legado de valor incalculável.

Se a construção da marina de Angra conseguiu trazer muita graça às faces rosadas da cidade-património, já este hotel, pelo contrário, só serve para lhe evidenciar os seus pecados mortais, cavando-lhe rugas eternas. E não há botox que disfarce este Cantagalo!»

Lídia Bulcão, in Diário Insular, 23/10/2010

sábado, 23 de outubro de 2010

Uma noite que valeu a pena!


O Experimentar Na M'Incomoda (LBulcão)

 «Quando o faialense Pedro Lucas foi chamado ao palco do Pequeno Auditório do Centro Cultural de Belém (CCB), no último domingo, para receber uma Menção Honrosa pelo projecto “O Experimentar Na M’Incomoda”, o seu rosto espelhava o que a maioria dos ilhéus presentes na entrega dos Prémios Megafone/João Aguardela haveria de sentir quando o espectáculo terminou: a sensação de que a noite soube a pouco.

Por mais que saibamos que o pouco por vezes é muito (e neste caso foi mesmo IMENSO), ainda assim não é fácil esconder o bocadinho de desilusão que nos fica na alma, tão intensamente exposta depois de ver e ouvir as nossas raízes açorianas celebradas numa das mais importantes salas de espectáculos do País.

O Pequeno Auditório do CCB, em Lisboa, estava pejado de “habitués” da música profundamente portuguesa, desde Mafalda Veiga a Luís Varatojo, passando por muitos outros nomes menos mediáticos e igualmente importantes. Mas o ar que se foi aspirando ao longo do espectáculo era bem mais do que apenas português: era também ilhéu, intensamente ilhéu.

Embora o primeiro nomeado da noite fosse um quarteto transmontano de som mirandês, os Galandum Galundaina, os outros dois nomeados para a primeira edição deste prémio eram projectos açorianos, nascidos e criados a partir do Faial.

Bandarra (LBulcão)
Dos três, os Bandarra, escolhidos pela sua “invulgar capacidade de misturar instrumentos tradicionais” e “sons de festa” com “letras profundas”, eram talvez os mais conhecidos entre nós e até os que arrecadaram mais palmas do público presente no CCB.

Contudo, foi O Experimentar Na M’Incomoda, de Pedro Lucas, que mais surpreendeu, conseguindo arrecadar uma Menção Honrosa ao mostrar-se herdeiro do verdadeiro espírito Megafone, o projecto mais alternativo do músico João Aguardela, que a maioria conheceu como líder dos Sitiados ou pela participação no projecto A NAIFA.

Nomeado pela sua “surpreendente criatividade” na reinvenção da tradição oral, o faialense Pedro Lucas conseguiu impressionar o júri ao vestir com sons electrónicos e contemporâneos músicas açorianas como “As Ilhas de Bruma” ou “Rema” e vozes como as de Zeca Medeiros ou Carlos Medeiros.

Já o Prémio principal foi para os Galandum Galundaina, com quem João Aguardela tinha uma especial afinidade – havia-lhes prometido participar no seu último disco, uma promessa que a morte não o deixou cumprir e que a atribuição deste Prémio vem de certa forma corrigir. 
Os nomeados para o Prémio Megafone Música (LBulcão)
Para muitos açorianos, provavelmente nem interessava quem ganhava o Prémio - desde que fosse um dos projectos ilhéus, e de preferência os dois. O nosso bairrismo é assim, e nisso não somos diferentes do resto do País. O que é nosso toca-nos sempre mais, mesmo que não seja verdadeiramente melhor.

Não vou aqui fazer nenhum parêntesis para debater a questão que muitos gostariam de ver respondida. A tal dúvida eterna do “será que não eram?”. Não precisamos entrar por aí, até porque esse era o papel do júri. Na verdade, nem interessa se eram ou não eram, ou se podiam ter sido.

Depois da noite de domingo, o que interessa é que dois projectos com raízes faialenses foram escolhidos de entre dezenas de outros candidatos de todo o País e ficaram entre os três melhores, com direito a edição e divulgação do seu próximo álbum em todas as plataformas FNAC. O que interessa é que tanto o Pedro Lucas como os Bandarra conseguiram pegar naquilo que é nosso e criar algo de novo. O que interessa é que não precisaram ignorar as tradições antigas, nem as raízes açorianas, para conseguir brilhar num mundo difícil e cada vez mais exigente como é o da música portuguesa. O que interessa é, sobretudo, ver que o mar que nos rodeia não é uma fronteira intransponível e que o talento ilhéu não pode, nem deve, ficar preso na ilha. E, só por isso, a noite de domingo valeu mesmo a pena.»

Lídia Bulcão, in Tribuna das Ilhas, 23/10/2010

Jazz do melhor, para um punhado de privilegiados

 (Foto: LBulcão)

Uma orquestra a sério, com excelentes músicos e um maestro de alto nível, a que acresceu um repertório perfeito para verdadeiros apreciadores de jazz. Foi, sem dúvida, um belíssimo espectáculo  aquele com que nos brindou a Orquestra Angra Jazz sábado à noite, no Hotel Marriot, em Lisboa. Falhou apenas a afluência de público, fruto de uma fraca divulgação desta iniciativa, promovida pela CulturAngra e pela Câmara Municipal de Angra do Heroísmo, no âmbito da semana da cultura angrense que teve lugar naquele hotel lisboeta. Mais uma prova do amadorismo  com que algumas autarquias açorianas continuam a encarar a promoção do turismo fora de portas.  Lisboa é uma cidade onde ocorrem centenas de eventos num sábado à noite e é preciso muito mais do que só fazer para de facto acontecer. Por melhor que tenha sido o espectáculo  - e foi  MUITO BOM - , duvido que as pouco mais de três dezenas de pessoas  que estavam na assistência (quase todas açorianas) consigam compensar o investimento feito no evento.

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

A ousadia de um criativo nascido na ilha

Homem de múltiplos talentos e grande visão, Rui Vieira é um criativo açoriano que dá cartas na publicidade nacional e internacional. Nascido e criado no Faial, é um ilhéu que soube partir à descoberta de outros horizontes e conquistar o seu próprio mundo, sem esquecer as suas raízes faialenses. Depois de seis meses a acumular a direcção criativa da Fullsix Portugal com a da Fullsix Nova Iorque - onde foi chamado para reestruturar a agência e angariar novos clientes - o Rui optou por regressar de corpo e alma a Portugal: «Não vale a pena irmos todos embora, como está a acontecer». Ficar, contudo, não significa estagnar, e prova disso é a estreia na realização de uma curta-metragem, a sua mais recente aventura no mundo publicitário, onde já acumula vários prémios nacionais e internacionais. Mais do que uma estreia ou de um filme publicitário, «Algo de bom» é uma curta-metragem recheada de pormenores, que vale a pena saborear com a delicadeza das coisas boas. Digna de um verdadeiro contador de histórias.

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Governo dos Açores no topo dos esbanjadores

Em ano de crise, os Organismos do Estado gastam dinheiro em festas e consultores. Esta notícia da TSF explica muito do País que somos hoje. E o melhor exemplo vem directamente dos Açores, com o Governo Regional a pagar a festa mais cara do País, pela módica quantia de 1,5 milhões de euros. A continuar assim, nem os cortes nos salários dos funcionários públicos vão chegar para tapar os buracos. Haja vergonha senhores!

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Verdadeiramente Nobel!

"Só um idiota pode ser verdadeiramente feliz."

Mário Vargas Llosa,
Prémio Nobel da Literatura 2010



Crédito da foto: EFE

Na ressaca do centenário



Depois da festa, vem a ressaca. Continua por terminar a Casa Manuel de Arriaga, cujo projecto foi concebido para comemorar dignamente o centenário da República nos Açores, e em particular no Faial, terra do nosso primeiro presidente. Se o Governo Regional tivesse cumprido com as suas promessas e obrigações, a inauguração devia ter sido por estes dias, com a pompa e circunstância que a recuperação das ruínas da família Arriaga merece. Depois de sucessivos adiamentos, a obra agora está finalmente a andar. Só esperemos que não seja preciso outro centenário para que seja finalmente concluída. Com sorte, bastar-nos-á esperar pelas próximas eleições regionais...

terça-feira, 5 de outubro de 2010

Uma República eternamente adiada?

Cem anos de República. Cem anos de tragédias, mortes, ditaduras, revoluções, crises e desvarios, mas também cem anos de mudanças profundas, evoluções naturais e progresso q.b. De certa forma, podemos falar da redescoberta de um lugar português no mundo. Mas quando todos esperavam que estes cem anos de República Portuguesa fossem celebrados com verdadeira grandeza e circunstância, Sócrates revelou um País novamente à beira de afundar, deixando o fantasma da incerteza a pairar sobre todas as aparentes conquistas. Na hora do balanço centenário, fica a inevitável pergunta: estará Portugal condenado a ser uma República eternamente adiada?

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Crónica de um voo livre


Foto: Claúdia Garcia


Ouvi a chuva a quebrar-se
e arrepiei-me com a sua leveza.
Olhei a espuma do mar
e senti a doçura da maresia revolta.
Aspirei o vento que corta
e deixei a pele revigorar-se.
Por fim, debrucei-me sobre o céu
e no breve azul voei livre,
como as ganhoas que rumam a sul
em busca de um tempo mais perfeito.

Lídia Bulcão