sexta-feira, 28 de novembro de 2008

A importância de ser premiada


Primeiro resisti. Gosto de nadar contra a corrente e não me deixar amarrar no primeiro cais. Depois, reflecti, analisei, pesquisei e acabei por me render à simpatia dos que acham que A Ilha Dentro de Mim é merecedora de maiores atenções.


Em pouco mais de um mês, este espaço recebeu dois prémios provenientes da blogosfera, um Brilhante Webblog 2008 vindo do conterrâneo Geocrusoe e um Prémio Dardos vindo pela inesperada mão do poeta de Águas do Sul.


Sei que a blogosfera exige retorno ao que dá, por isso venho agora cumprir a responsabilidade que me foi exigida, elegendo o blogue da Reimão como Brilhante Webblog 2008.

E porque este mundo virtual tem possibilidades infinitas de momentos brilhantes e de grande sensibilidade, vou escolher apenas um punhado de mundos criativos para o prémio Dardos, que visa "reconhecer o empenho de cada blogueiro ao transmitir valores culturais, éticos, literários e pessoais, e que demonstram a sua criatividade através do pensamento vivo que está e permanece intacto entre as suas palavras”.


Assim, os meus Dardos vão para:

- as linhas perfeitas do Fogo de Letras;
- a poesia verde do Desambientado;
- a sensibilidade d'A Anatomia dos Sentidos;
- o valor patrimonial do recém-nascido Horta XXI.

Aos distinguidos cabe agora aceitar, ou não, a responsabilidade de levar estes prémios a outras paragens. A escolha é só deles.

quinta-feira, 27 de novembro de 2008

A poesia da geodiversidade

Porque a geodiversidade açoriana é tão rica quanto a sua alma, recomendo um momento de perfeita açorianidade que encontrei nas linhas do poeta Desambientado.

quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Amanhecer



Luz que dói na escuridão,
correndo o pântano da dor
com sua leveza e brilhantina.

Fio de incandescência,
que deixa transparecer
os pontos negros da alma
e os vazios do pensamento.

Esperança fina, ténue
como a dor quando arranca,
antes de surgir em força
e profundidade.

Suave toque de brisa
voando sobre a tempestade,
com a ligeireza da bruma
que não tem medo das raízes
de força bruta,
nem dos trovões de som eterno.

Lídia Bulcão


Crédito foto: Azorina/ Gilda Pontes

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Círculos de eterno retorno


Ainda eu não tinha nascido e já Eugénio de Andrade conseguia escrever o que eu haveria de sentir, mais de três décadas depois: «Há dias, há noites em que as águas se movem lentas na minha memória. Movem-se? Daqui as vejo imóveis, com esse peso do verão sobre o corpo.» E como pesa esse peso de que o poeta fala, ainda que seja outro Verão, outro corpo, outras memórias. Por estes dias, as águas quase nem se moveram dentro de mim, correndo lentamente em círculos de eterno retorno. E, à semelhança do poeta, também eu pergunto: «Como esquecê-las?»

terça-feira, 18 de novembro de 2008

Fortes com memórias

Vista da vigia do Forte da Espalamaca (Foto: Lídia Bulcão)


Porque o tempo, por vezes, parece não ter passado e os assuntos de ontem ganham hoje uma estranha actualidade, deixo aqui uma crónica que escrevi para o semanário Tribuna das Ilhas. Foi publicada já lá vão seis anos, mas pode ser lida como se tivesse saído hoje.

«Quanto mais tempo passo nesta terra, mais me convenço de que há lugares maravilhosos ao nosso lado, cuja existência mal conhecemos. Porque estão longe dos olhos, porque o caminho não é acessível, ou simplesmente porque o acesso é proibido ao comum mortal.

O Forte da Guia e o Forte da Espalamaca, que visitei pela primeira vez esta semana, são dois desses lugares que a vista não alcança e que encerram verdadeiros tesouros. Não daqueles que valem muito ouro, mas sim dos outros. Daqueles que nenhum dinheiro pode pagar.

Neste caso concreto, encerram os dois melhores miradouros que a cidade da Horta poderia alguma vez ter. Ou não fossem os melhores postos que o exército encontrou para proteger a baía que ancorava as frotas dos aliados durante a II Guerra Mundial.

Quem sobe ao miradouro do Monte da Guia, está longe de imaginar o outro lado. Depois de ver a Ermida, olhar as caldeirinhas e a vista sobre Porto Pim, imagina-se um pouco mais da cidade e nada mais. No entanto, do outro lado do monte, que é ainda mais alto, a panorâmica de sempre ganha outra vida.

À medida que o caminho se vai percorrendo, a Horta vai-se descobrindo e com ela a baía em todo o seu esplendor. Depois do olhar sobre a cidade, vem a visão das caldeirinhas com as águas quase turquesa por baixo, a Ermida da Guia no cimo e as pastagens verdes da ilha por detrás.

Na outra ponta da cidade, no Forte da Espalamaca, o tesouro é outro e com um valor muito mais histórico. Por baixo das pastagens que todos vemos, estão vários túneis, com centenas de metros e muitos labirintos, assustadores só para quem não conhecer os cantos à casa, como o sargento Fontes, que guiou a comitiva e apresentou os recantos. Na saída de um dos túneis, há uma vista maravilhosa sobre a Horta e sobre todo o canal. Pelo meio, muitas clarabóias, pequenas salas, antigas camaratas e até instalações sanitárias.

O Forte da Espalamaca é, no fundo, a memória de um tempo que há muito passou pela ilha, mas que ali ainda parece respirar. Talvez porque o ar não cheira mal e a humidade não penetrou nas paredes. Talvez porque a ferrugem não penetrou nos metais e as roldanas continuam a funcionar como se tivessem sido usadas no mês passado. Mas, sobretudo, porque a história que ali se fez ainda está por contar. E, se não nos apressarmos, ficará por contar para sempre. Porque a venda daquele espaço a um qualquer comprador pode significar a destruição da história que é de todos nós.»

Lídia Bulcao, in Tribuna das Ilhas de 11/10/2002

Em nome das nossas memórias

Vista do Forte do Monte da Guia (Foto: Lídia Bulcão)

Porque há assuntos que estão mais actuais do que nunca, porque há linhas que não devem cair no esquecimento, porque há reacções que se deviam repetir, deixo aqui esta crónica que escrevi para o extinto semanário Terceira Expresso, já lá vão seis anos.

«A venda em hasta pública de alguns imóveis do Estado, dos quais se destacam o Forte da Guia e o Forte da Espalamaca, situados na ilha do Faial, teve sobre a Região um efeito que poucos acontecimentos conseguem. É que com excepção das frequentes calamidades que nos atingem - ora a umas ilhas, ora a outras -, raras vezes se ouvem os vários partidos políticos e outras entidades açorianas erguerem-se a uma só voz para defender uma causa.
Neste caso, não sei se foi a falta de consideração da República, que nem se deu ao trabalho de nos avisar, ou se foi a falta de respeito pela preservação da nossa tradição e do nosso património que mais indignou os partidos, o Governo, a Assembleia e outras instituições. Mas isso também não é o que mais interessa. O que interessa verdadeiramente é que aconteceu. E esperemos que se venha a repetir muito mais vezes.
Sabemos que somos pequenos, somos poucos e ainda por cima estamos repartidos em nove bocadinhos de terra. Mas talvez seja preciso lembrar de vez em quando que não é por isso que temos menos força. O que nos enfraquece e nos diminiu são as divisões, as invejas e os bairrismos desnecessários.
Os Forte da Guia e da Espalamaca são, indiscutivelmente, dois marcos importantes na história do canal Faial-Pico. Ou não tivessem sido os melhores postos que o exército encontrou para proteger a baía que ancorava as frotas dos aliados durante a II Guerra Mundial. São, no fundo, a memória de um tempo que há muito passou por estas ilhas, mas que ali ainda parece respirar.»
Lídia Bulcão, in jornal Terceira Expresso, Outubro de 2002

Fortes do Faial vão ser alienados outra vez!

Já tinha ouvidos uns zunzuns, mas pensei que era boato... Entretanto, uma notícia já atrasada deu-me a certeza de que já não se pode confiar em ninguém. O Governo da República vai mesmo alienar 28 imóveis nos Açores e entre eles, pasme-se, encontram-se novamente o Forte da Guia e a posição da Espalamaca, desta vez acompanhados pelo Quartel do Carmo, pela Carreira de tiro e pelo Paiol geral.
Quando, há seis anos, o Instituto Açoriano de Cultura, a Câmara Municipal da Horta e os deputados regionais do PS, do PSD e do PCP eleitos pelo círculo do Faial uniram esforços para evitar a venda em leilão daqueles dois ex-libris da ilha, o assunto pareceu ficar resolvido.
Os fortes da Guia e da Espalamaca foram então retirados da venda em hasta pública pela Direcção-Geral do Património, do Ministério das Finanças, e a autarquia faialense reiterou publicamente o seu “interesse na aquisição do Forte da Espalamaca”, uma pretensão que perseguia desde 1997, “com vista a promover a instalação no local de um núcleo um núcleo museológico com as memórias da presença militar no concelho da Horta”.
Qual não é o meu espanto quando, por estes dias, vejo que os mesmos dois bens militares (já para não falar sequer dos outros três) voltaram a fazer parte de uma nova lista de bens a alienar. O que se passou entretanto? Quem falhou neste negócio? A Câmara? O Governo? Ou o dinheiro?

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

Águas agitadas no parlamento açoriano

De tricas e laricas se fiam as teis da política açoriana. E, hoje, a Assembleia Legislativa da Região Autónoma dos Açores tem estado ao rubro com tanta actividade. Fernando Menezes foi trocado na presidência por Francisco Coelho, ex-líder da bancada parlamentar, que agora fica nas mãos de Hélder Silva, ex-secretário do Ambiente. A tomada de posse foi às 15h00, mas as águas no Parlamento ainda estão demasiado turvas para se vislumbrar o fundo.

Mecenas procura-se!

Quando penso que já poucas coisas me podem surpreender, aparece sempre mais uma para me deixar sem palavras. Alguém me explica como é que, num país com tantos milionários como o Brasil, não há nenhum mecenas capaz de salvar a Fundação Casa de Jorge Amado? Perante a falta de gente capaz de salvar o património cultural de um dos maiores escritores brasileiros, a família do escritor vê-se obrigada a leiloar a colecção de obras de arte do escritor para salvar a fundação. É muito triste!


sexta-feira, 14 de novembro de 2008

De relance

Uns segundos de relance foi quanto bastou ao olhar para o coração saltar. Saltar não sei bem se é a palavra, porque pareceu mais parar. Durante uns instantes congelou, como se não houvesse amanhã e a eternidade fosse agora.

Esse gelo depressa se transformou em lava quente, prestes a explodir em qualquer direcção. Num instante de segundos, o olhar desviou os movimentos do corpo, que não deixam de marcar um rumo seguro. Caminhando, não olhando, mas sempre vendo, como se a vida fosse um filme que passasse apenas nas laterais do ecrã plano.

Na distância de um segundo, o coração voltou a saltar. Mais calmo, menos explosivo, mas ainda assim ritmado por um compasso de esperança. A esperança de que algo de estranho aconteça. A esperança de que o medo seja apagado e o desejo se construa em segurança.

Mas a segurança não abriga desejos, nem se compadece de futuros incertos. Prefere atravessar a rua, com passos convictos de incerteza nenhuma. E rumar ao porto de todos os abrigos, onde o vento não entra, mas a tranquilidade também não chega.

César baralhou e voltou a dar

Costuma-se dizer que em equipa que ganha não se mexe. Talvez por isso Carlos César tenha mantido a nova equipa governativa quase intacta, com excepção de três caras novas. Mas a verdade é que não devia estar nada satisfeito com o desempenho dos seus trunfos, porque resolveu baralhar tudo e voltar a dar. Saiba mais aqui.

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Um escritor para não perder de vista



Primeiro Jacinto Lucas Pires, agora Gonçalo M. Tavares. Definitivamente, a semana está a ser grandiosa para os nossos jovens escritores. A notícia chegou-me pela Ler, mas parece que ontem já estava no Ciberescritas. Contudo, nada vi nos jornais online. Devo estar muito distraída...
O escritor português acaba de ser premiado em Itália com o Prémio Internacional Trieste 2008, atribuído ao livro “1″, originalmente publicado na Relógio D’Água.
Quando o seu livro Jerusalém foi premiado com o Prémio José Saramago, em 2005, lembro-me do Nobel português dizer do autor uma frase simples: "Gonçalo M. Tavares não tem o direito de escrever tão bem apenas aos 35 anos: dá vontade de lhe bater!" Agora, acho que já é tempo de reconhecer: dá vontade de o ler!

A desorganização dos pessoanos






Bem dizia Eugénio de Andrade que Pessoa servia para tudo. Olhando para as notícias do Público online aqui e aqui , é caso para dizer que nem os pessoanos conseguem "pôr ordem na arca" do poeta.







quarta-feira, 12 de novembro de 2008

Ainda há perfeitos milagres!


Boas novas para a jovem literatura portuguesa, que cada vez mais se arregaça por esse mundo fora. Prova disso é a notícia de que o escritor Jacinto Lucas Pires foi galardoado com o Prémio - David Mourão-Ferreira, um galardão que vai levar as já muitas obras deste jovem escritor aos países da União Europeia e do Mediterrâneo. Parabéns ao Jacinto e, sobretudo, aos seus futuros leitores. Afinal, ainda há perfeitos milagres!


Crédito da foto: Luísa Ferreira,1997

terça-feira, 11 de novembro de 2008

Palavras de Eugénio para Nemésio


Porque os homens são humanos, porque o tempo nem sempre é justo, porque a literatura portuguesa por vezes se esquece dos nomes que melhor a personificaram, deixo aqui uma homenagem de Eugénio de Andrade a Vitorino Nemésio. Foi escrita alguns anos depois da sua morte, mas continua muito actual, já que, longe das ilhas, a obra de Nemésio continua muito desconhecida.

«A VITORINO NEMÉSIO,
ALGUNS ANOS DEPOIS

Ninguém te lê os versos, tão admiráveis
alguns, e a prosa não tem muitos leitores,
embora todos reconheçam, mesmo os que
nunca te leram, que é magnífica.
A moda é o Pessoa, coitado: dá para tudo;
e a culpa é dele, com aquela comovente
incapacidade para ser ele próprio.
De nada lhe serviu ter dito e redito
que a fama era para as actrizes.
Que vocação de carneiro têm as maiorias:
não há fúfia universitária ou machão
fardado que não diga que a pátria
é a língua ou a puta que os pariu.
Não, contigo, isso não pegou. Durante anos
e anos arrumaram-te na prateleira:
eras o Cavaleiro das Tristes Figuras.
Conversão ao catolicismo, fretes ao estado
novo, prémios do sni não ajudavam muito
a que te lessem, além de haver outros poetas
a festejar, por sinal bem medíocres, mas
«democratas
convictos», coisa que dizem que não foste.
Isto de morrer pela pátria não é para
todos e tu, decididamente, para a morte
não tinhas nenhuma inclinação. Afinal,
além dos alciões a quem davas os olhos,
só tinhas versos, e alguns bem maus,
coisa aliás de pequeníssima importância,
como exemplarmente, depois de morto, provou
Pessoa, que está, como se sabe, no paraíso.
Coitado, pensava ter tempo para pôr ordem
na arca, mas a morte veio antes da hora.
Contigo ao menos isso não aconteceu,
bebias menos, pudeste arrumar a casa.

Nada disto importa já, e de resto
que lêem esses que lêem quando lêem?»

Eugénio de Andrade, 1983
homenagens e outros epitáfios, in Poesia

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

São Martinho adiantado





O Verão de São Martinho chegou aqui um pouco adiantado. O Sol já brilha alto e o calor aquece a alma de quem sonha com castanhas, sempre quentes e boas no rezar dos pregoeiros. As minhas chegaram ontem, de avião. Vieram directamente da ilha, apanhadas na quinta dos avós e entregues por mãos amigas. Amanhã, vai ser um dia privilegiado. Nem sequer vai faltar a delicada Angelica para acompanhar...

sábado, 8 de novembro de 2008

Pormenores criativos


Mais uma oportunidade para apreciar os pormenores criativos da ilustradora Rute Reimão, que com as suas mãos de fada consegue sempre desencantar vida onde ela parece já não existir. A exposição senão a ti - a ti é inaugurada hoje na loja/atelier Rosa Malva e pode ser visitada até ao próximo dia 4 de Dezembro. Se passar pelo Porto, não perca esta oportunidade. Se não passar, vá até ao blogue da ilustradora e descubra mais pormenores de encantar. Só para quem não medo dos sentimentos.

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Folhas de Outono



Secas, duras e estaladiças são as folhas do Outono,
como as almas doloridas, que se quebram ao primeiro abano.

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Vidas amontoadas









Para quem ainda tenha ilusões sobre o valor da vida depois da morte, deixo aqui este instante, captado no cemitério dos Flamengos, na ilha do Faial. Estas vidas amontoadas são apenas o retrato de como os vivos já não olham pela memória dos seus mortos.

Crédito da foto: LBulcão

He did it!


Baracka Obama conseguiu. Ele foi eleito o primeiro presidente negro dos Estados Unidos da América e fê-lo levando os americanos afogados em crise a acreditar que um futuro melhor ainda é possível. Hoje, o dia é do homem que não teve medo de sonhar e de todos os que acreditaram que era possível ir mais longe do que os sonhos. Em hora de euforia, não há como deixar de celebrar a vitória da esperança num País que estava a deixar-se entrar em ruína. Que tenha sido também uma lição para o mundo!

terça-feira, 4 de novembro de 2008

Borlas para combater abstenção

«Algumas das maiores cadeias de lojas norte-americanas estão a oferecer produtos ou descontos aos cidadãos que votem hoje. Café, gelados, 'donuts' ou sandes, de tudo um pouco se pode conseguir à borla no país do 'Tio Sam'.»
Esta notícia acaba de cair no Expresso online e poderá ser, quem sabe, a solução que os açorianos precisam para o problema da abstenção crescente no arquipélago. Inspirem-se aqui.

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Contigo ao lado


Sei que paisagens como esta não precisam de palavras, e que palavras como as do mestre Pedro da Silveira - que abaixo reproduzo - conseguem ser eternas sem qualquer imagem que não a produzida pelos seus próprios versos. Ainda assim, aqui as junto, porque não consigo olhar para uma sem pensar na outra.

«4. (Demandando Porto)

Monte Queimado: chaga preta!
Dentro de ti, sei lá,
ainda o fogo rebenta
intestinos de pedra.

Mas a cidade deita-se a teu lado,
dorme contigo,
acorda
contigo ao lado.

E contigo, sem medo,
em mil navios navega,
contigo sabe os nomes
de mil navios mortos.

É um deserto a baía!

O Monte Queimado,
a cidade,
a baía…»


Pedro da Silveira, Diário de Bordo, in fui ao mar buscar laranjas


Crédito Foto: Lídia Bulcão