sexta-feira, 20 de novembro de 2009

O que diz isto da imprensa faialense?

Processo judicicial opõe jornalista a Assembleia Regional. Leia-se Rui Gonçalves, director do jornal Incentivo, é o primeiro jornalista processado pela Assembleia Regional dos Açores. Confesso que a notícia da Lusa não me surpreende. Não li o artigo em questão, nem quero aqui julgar o jornalista Rui Gonçalves (isso cabe ao Tribunal), mas por outros artigos que tenho lido nos jornais faialenses nos últimos meses (de profissionais do jornalismo, mas não só), era fácil perceber que mais tarde ou mais cedo os processos iam começar. No Faial há quem pense que a imprensa local é uma espécie de parlamento e que os seus jornalistas (ou colunistas) têm uma espécie de imunidade parlamentar. Os jornalistas são, e devem ser, livres de contar o que vêm e enquadrar devidamente os factos, respeitando a fronteira entre a reportagem e a opinião (muito ténue e facilmente ultrapassada). Sempre defendi que as opiniões dos jornalistas devem ser deixadas para as crónicas e colunas de opinião, mas mesmo aí há limites para o que se diz. E isto não se aplica só aos jornalistas, mas também a políticos e outros colunistas. Os artigos de opinião de qualquer jornal são espaços de liberdade, mas a liberdade individual acaba onde começa a liberdade dos outros. A imprensa não pode, nem deve ser, palco de insultos e difamações gratuitas. Não ajuda a esclarecer e só contribui para o desencanto dos cidadãos. Os leitores merecem mais respeito do que isso.

Para quando uma oficina de apoio técnico no Porto da Horta?

HORTA «pit stop» de grandes regatas internacionais 2009. A notícia do Faial Online não engana. Há cada vez mais veleiros internacionais que pedem ajudam ao Porto da Horta e atracam na sua marina para reparações ou outros pormenores de assistência técnica. Mas apesar desta procura crescente, continua a não haver qualquer oficina de apoio técnico na marina ou no porto. Pior, a nova bacia portuária que está a crescer a norte da baía da Horta também não a contempla. Depois de se ter deixado fugir para São Miguel um talento no sector como o do Emanuel, como aqui já referi, continuamos a ignorar uma actividade que pode ser uma mais valia para a cidade-mar. Para quando um espaço reservado à assistência técnica no Porto ou na marina da Horta?
Crédito da Foto: Faial Online

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Corram até à Figueira para ver a "Unânime Dixie Band"

Se eu pudesse, domingo que vem corria até à Figueira da Foz só para ouvir a "Unânime Dixie Band" representar os Açores na categoria Orquestra do Concurso Nacional de Música. Apesar de ser um dos agrupamentos da Sociedade Filarmónica Unânime Praiense, da ilha do Faial, a Dixie Band está longe de ser uma filarmónica, pese embora a escola e o percurso dos seus músicos - Rúben Silva no Trompete; Jaime Lopes no Trombone; Eduardino Freitas no Saxofone; Vítor Costa no Clarinete; Márcio Vargas no Piano; César Oliveira na Bateria; Mário Pereira na Tuba e Manuel Lemos no Banjo. O concurso em que os faialenses vão participar, organizado pelo INATEL, é para amadores, mas quem ouve os sons da sua "Unânime Dixie Band" não tem dúvidas que podem ir muito mais longe do que as festas de freguesia. Quem sabe se este concurso não vai ajudar a dar o salto? Se eu pudesse, corria até à Figueira da Foz para dar o meu apoio a estes músicos, que vivem a música por inteiro e não deixam que a ilha lhes tire a vontade de ir mais além. Não podendo... Bem, não podendo deixo esse apoio já aqui. Porque a qualidade da "Unânime Dixie Band" merece.

Nova exposição de Sandra Rocha

Foto: Sandra Rocha

«Love Stream» é a nova exposição da fotógrafa terceirense Sandra Rocha, membro da Kameraphoto. A inaugurar amanhã, pelas 18h00, no Centro de Arte de São João da Madeira e para ver até 6 de Dezembro.

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

O peso da escuridão

«Ainda a noite não tinha caído e já estava escuro como breu. Na rua, o silêncio era ocupado pelo barafustar das folhas secas e o estalar dos ramos caídos. Os pássaros havia muito que tinham já esvoaçado em direcção a solos mais quentes. Em redor, o anoitecer que poderia ser tranquilo era, contudo, pesado. Pesado e peganhoso, como uma humidade que não se consegue secar.
O ar estava tão denso que o termómetro poderia explodir a qualquer momento, mas não era só isso. A escuridão também parecia mais pesada, mais densa, mais disforme do que me habituara. Talvez porque as luzes da cidade pareciam estar demasiado longe e a lua perdera o seu reflexo no mar. Ali, no topo da serra e no meio do nada, os olhos eram as únicas lanternas disponíveis. E a alma uma espécie de baterias de carga única, com a capacidade para entrar em auto-gestão.
Saí do carro confiante. A noite tinha tudo para ser nossa. Não esperava, contudo, que um medo repentino se apoderasse de ti. Pior: não esperava que esse medo se transformasse em pânico e te roubasse a sanidade.
Naqueles dias, tudo o que procuravas era uma noite assim. Tranquila, silenciosa, isolada. Querias fugir do mundo que te perseguia, das inseguranças que carregavas, dos traumas que trazias por resolver. Fugias para não falar, para não enfrentar, para não teres de lidar contigo próprio.
Nos momentos mais intranquilos, ias até ao porto mais próximo e ficavas a ver os barcos, que pastavam no mar chão com a tranquilidade das coisas seguras. Por vezes, paravas na praia, tentando penetrar nos segredos da espuma, como se isso fosse descodificar todos os enigmas da tua alma. Perdias horas sem fim a olhar as vagas que se enrolavam e quebravam com sequências muito pouco lógicas e ainda menos seguras para quem se quedava à beira da areia, rondando o vai e vem da água revolta, gelada de perigo.
Quando te sentias reconfortado, voltavas a casa. Não mais tranquilo como se esperava, mas mais ansioso, como se tivesses gasto a energia que te consumia a alma. Voltavas para recarregar o corpo durante o sono e de manhã despertavas novamente envolto nos dilemas de sempre.
Na rua, quem se cruzava contigo habitualmente costumava deslumbrar-se com a tua facilidade expressiva, com a tua simpatia, com as tuas tiradas inesperadas, sem contudo desconfiar que por detrás do sorriso brilhante estava uma face cravada de tormentas.
Naquela noite, as tormentas estavam pesadas como nunca e tu desesperavas. Querias fugir de ti próprio e a solução imediata era subir ao ponto mais alto que tinhas por perto. Chamaste-me então, e eu não hesitei. Deixei os amigos a jantar, entrei no carro e fui ter contigo.
Mal entraste no carro, segui pela estrada que sabíamos ser a mais segura. Àquela hora, como já era de esperar, não havia vivalma na rua. Nem naquela, nem em nenhuma das outras ruas que percorremos. Naquele momento, eram apenas longos pedaços de alcatrão, sem luz, sem gente, sem vida. Assim os encontrámos e assim os deixámos, correndo em silêncio os quilómetros que encontrámos, seguindo na estrada como um barco fantasma que traça a sua rota de sempre.
Subimos, subimos, subimos, até a estrada acabar e ficámos então a sós com a imensidão da terra e da paisagem. A lua, que se queria cheia, era nova naquela noite. Suficientemente nova para roubar a luz que te aliviaria a alma naquele instante.
Quando saíste do carro, ficaste como que assombrado. Paraste, imóvel e aparentemente alheio, como se estivesses a ver para lá da escuridão. De repente, arrepiaste-te e quiseste ir embora. Eu insisti para ficarmos um pouco mais, certa de que te faria esquecer esse breve sinal de frio. Tonta cabeça a minha que não vi o que estava na minha frente!
Ao primeiro arrepio, seguiu-se a sombra de uma escuridão estranha, que se apoderou da paisagem e da noite, parecendo engolir a terra. Por momentos, ficaste parado no vazio, a tremelicar compulsivamente. Antes que eu te perguntasse o que tinhas, entraste no carro e durante uns segundos, talvez milésimos, remexeste no saco que trazias contigo desde manhã cedo. Foi então que saíste do carro, olhaste para mim e disparaste.»

Lídia Bulcão, in Avenida Marginal de 31/07/2009

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Pormenores das Selvagens nos Capelinhos

São apenas dez fotografias a preto e branco e outras vinte a cores, mas valem bem uma ida ao Centro de Interpretação do Vulcão dos Capelinhos, onde a exposição “Ilhas Selvagens 30º 08’ N 15º 54’ W”, de Paulo Henrique Silva, vai estar patente durante este mês de Novembro. As imagens são resultado de uma incursão feita pelo fotógrafo às Selvagens, onde registou a fauna e flora daquele território, que é Património Natural da Macaronésia.
Crédito da foto: GACS

A propósito de cinema-documental

Numa altura em que os festivais de cinema dominam as atenções nacionais (Estoril Film Fest) e regionais (Faial Film Fest), vale a pena ler com atenção o artigo do Ípsilon a propósito do "O documentário que agitou o DOC". Uma discussão aberta sobre o que é ou deve ser um verdadeiro documentário, com alguns rasgos à mistura.

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

A marca das coisas que importam

À velocidade que as coisas acontecem, uns dias longe da Internet parecem já uma eternidade. Mas entre a velocidade virtual e a real, há todo um misto de sentimentos e emoções que não se perdem na voracidade do tempo. Foi assim que passei os últimos dias, a descobrir um outro lado da ilha Terceira. Por entre brumas dominadoras, folias importadas e tradições ancestrais, houve tempo para sentir a paisagem, a arquitectura e as pessoas. Estreitaram-se laços de sangue, retomaram-se amizades perdidas, apreciaram-se prazeres quase esquecidos. No final, o regresso fez-se com uma tranquila incerteza. Ou não fosse a inquietude a marca das coisas que importam.
Foto: LBulcão

Um brinde ao novo Mente Livre!

Nasceu o Mente Livre, um forum de discussão política, que é sobretudo um espaço para "pensar os Açores e o país sem amarras". Nascido do espírito interventivo do blogger Carlos Faria (do Geocrusoe), este Mente Livre pretende ser "uma página de lançamento de temas para debate político, aberto e descomprometido, na blogosfera açoriana". Um lugar a frequentar, sem dúvida.

Quem me dera ter uma Câmara assim


Eu, que tenho o manjericão a crescer na varanda e acabei de plantar novas doses de salsa, coentros e oregãos em pequenos vasos, fiquei hoje com inveja dos habitantes de Ponte de Lima, a quem a Câmara vai dar lotes de terreno para criação de hortas urbanas. Ao ler a notícia só pensei: também quero uma autarquia assim!