quinta-feira, 23 de outubro de 2008

O cheiro da civilização

Ao passar pela feira mensal de Coina no último fim-de-semana, com a sua habitual confusão de trânsito, gentes e chão de poeiras infindáveis, dei por mim a voar para Portobello Market, em Londres. Ex-libris de Notting Hill, Portobello Market é uma mescla de mercado, feira e multiculturalidade.

Há legumes frescos, roupa de qualidade, antiguidades, artigos de decoração, raridades e velharias. Há vendedores de sempre e trocas de mercadorias, tesouros que se exibem mas ninguém compra, velharias que são disputadas e sobretudo muita mistura de gentes e culturas.

São salsichas alemãs com pastelaria inglesa, são frutas frescas e peixe no gelo, são panelas e tachos, baús e cabides, quadros, espelhos, molduras, moedas, selos e vinis. São roupas modernas para o Verão e barracas com artigos em segunda mão. Botas velhas recuperadas, sapatos engraxados e malas encardidas. Há de tudo para vender, logo há de tudo para comprar. E há, sobretudo, gente que tudo procura e ali encontra.

Há cheiros no ar. Há confusão nas ruas, atafulhadas mas transitáveis. As barracas nas laterais dos passeios permitem ao trânsito circular. Mal, mas, ainda assim, circular.

Há conversas e negociações, há confusão, há misturas e há até avisos claros de que os carteiristas andam por lá. Mas não há gritos, não há discussões, não há empurrões.

Há gente, muita gente. Locais, turistas, e de outros regiões da cidade ou do País. Há indianos, asiáticos, africanos, árabes, europeus e até americanos. Mas não há guerra, nem tão pouco se nota o preconceito.

No mercado de Portobello Road há uma mescla de gente e culturas. Mas há sobretudo o cheiro da civilização.

Crédito foto: @LBulcao

2 comentários:

ematejoca disse...

Quando vivi em Londres, já há muitoa anos, ainda se podia ter um apartamento em Portobello. Depois do filme "Notting Hill" é quase impossível. A subida de preco foi exorbitante.

Estou-lhe grata por mencionar no seu comentário pessoas como o pintor Júlio Resende, mas também o realizador Manoel de Oliveira, o pintor Júlio Pomar, o escritor José Saramago ou o filósofo Eduardo Lourenço. Pessoas que também me sao muito queridas.
No entanto, acho que a minha admiracao por estes homens nao é compartilhada pelos meus leitores/as. Já publiquei no
"ematejoca azul" dois artigos sobre o Manoel de Oliveira, o realizador mais velho do mundo e um dos melhores, e nao tive um
único comentário. Claro que nao é a questao de ter comentários ou nao que me preocupa, mas sim, se ele é tao admirado pelos nossos compatriotas como eu o admiro.

Saudacoes outonais!

A ilha dentro de mim disse...

Os filmes têm esse efeito. Mas continua a ser um belo local para nos perdermos...

Quanto ao seu comentário, não estranhe essa ausência, porque as pessoas têm medo de comentar o que desconhecem. E a verdade é que apesar dos autores serem famosos, a sua obra ainda é desconhecida da grande maioria.

E já reparou que acontece o mesmo com a poesia? Já viu como é raro alguém comentar um poema, a não ser que seja de um autor conhecido? Têm medo de entrar no desconhecido... Não leve mal, mas o português ainda é assim!