domingo, 4 de julho de 2010

Um brinde aos 177 anos da Horta!

(Foto: LBulcão)

Porque em dia de festa se celebra o passado e se fazem votos para o futuro, deixo aqui as palavras do poeta Pedro da Silveira, que captou como ninguém a verdadeira essência da minha cidade. E com este poema imortal, deixo também os meus votos de que a Horta aprenda a libertar os sonhos do passado e a lutar mais contra as amarras invisíveis que a impedem de perseguir livremente o futuro que deseja.


5. Horta: Quase réquiem

«A casa do Pilar - só nos versos (tão beços!)
do armador-poeta.
Dos Dabney, só o nome do cênsul
nesta rua calada.
Mas resta ainda a Fayal Coal
(à falta de barcos
que metam carvão
mudaram-lhe o nome
por patriotismo...)
e as companhias do cabo
(meia dúzia de ingleses
bebem gin nos cafés
e metócidos somam
os dias do desterro).

Como isto foi grande, dinâmico, mercantil, aventureiro!
Homens de todas as raças no porto da Horta,
todas as línguas e bandeiras
no porto da Horta.
178 navios baleeiros num dia!
E a esquadra do Czar.
A Home Fleet.
E navios à carga, vozes, gritos,
o gemer dos guindastes...
Vinho do Pico. Urzela. Laranjas.
Ship-chandlers.
Contrabando...
Só o Faial vale tudo
(e valia!)
pela janota que tem...
(E isto era o rosto ancorado
da civilização!
Era a mais alegre, a maior
cidade pequena do Mundo!
Era a riqueza de Londres
e de Nova York!
Era o requinte de Paris, o luxo
de Sanpetersburgo!
Todos mercavam, vendiam.
Embarcavam.
Tornavam.)

Minha cidade ship-chandler!
já eras pobre quando
no teu corpo salgado,
nesse olhar que ainda adiantas
para o longe do mar,
calada me mostraste
quando foste e retratas:
o passado que esperas
em futuro renasça
de nem sabes que frotas
ou esquadras fantasmas...»

in Obras de Pedro da Silveira, fui ao mar buscar laranjas1

3 comentários:

Carlos Faria disse...

Excelento poeta que retrata esta a decadência e perspectiva o estado a que esta cidade chegou hoje.
Já andei em busca do livro mas nunca o consegui encontrar.

A ilha dentro de mim disse...

Eu também só o consegui encontrar na Feira do Livro da Semana do Mar, que é onde descubro os meus tesourinhos açorianos. Procura lá este Verão, pode ser que tenhas sorte.

João Barbosa disse...

Parabéns à tua cidade à beira mar.