Esta história da jovem bipolar que foi transferida de Ponta Delgada para tratamento no Hospital da Horta é inenarrável. Pelo insólito da situação e porque é sintomática do estado de degradação a que chegou a Saúde na Região Autónoma dos Açores. O passivo do sector ronda os 600 milhões de euros (equivale a quase metade do passivo do Ministério da Saúde no continente português) e os dois maiores hospitais da região estão falidos. Mas parece que ainda há dinheiro para pagar 16 ordenados de altos dirigentes em duas Unidades de Saúde que não têm mais do que cinco médicos no total. E enquanto o Secretário Regional da Saúde está ocupado a afundar o que sobra do sector, cerca de 80 mil açorianos continuam sem médico de família e muitos outros ainda estão em lista de espera para uma consulta ou cirurgia. No meio de toda esta confusão, só não deixa de ser algo irónico ouvir o espanto com que alguns micaelenses reagem ao facto de terem de ser transferidos para tratamento noutra ilha, uma realidade que infelizmente qualquer habitante das ilhas "menores" já foi obrigado a encarar como "perfeitamente" normal. Tão normal quanto o descalabro das contas públicas socialistas.
Coisa estranha esta de ser ilhéu. Pedaço de alma rodeado de lava por todos os lados. Ou será rodeado de... poesia?
segunda-feira, 29 de novembro de 2010
sexta-feira, 19 de novembro de 2010
A clarividência de um arqueológo de palavras
Porque é preciso meter mãos à obra e construir tudo aquilo que ainda está por fazer nestas ilhas, deixo aqui as palavras deste arqueólogo da poesia que é Heitor H. Silva. A clarividência do poeta faialense iá indicava o caminho a seguir, sem que fossem preciso gastar milhares de euros em estudos que dizem ou consultadorias que desdizem.
«Construamos barcos para as madrugadas
insulares. Tábua a tábua, porões,
convés, mastreações, velames,
vento nas enxárceas...
Construamo-los nós mesmos: velas brancas,
lemes, mastros, cascos que se afundem
nos horizontes repetidos.
Vertiginosamente aquáticas estas mãos
que adormeceram tempo de mais
no emaranhado dos sargaços
saberão, certamente, como redimir-se.
Desçamos às profundidades oceânicas
galvanizados por essa voz extrema,
que nos toca tão de perto,
e sintamos em cada tábua que um carpinteiro
alcança a outro carpinteiro
antevisões de serras, puas, prumos,
viagens puras,
cartografia perfeita
inscrita no dorso azul e fusiforme
dos cardumes.
Inéditas seriam estas paisagens submersas
se o coração as não soubesse.
Construamos barcos, ilhas/barcos
derivando.»
Heitor H. Silva, in "Arqueologia da Palavra" (Horta, 1991)
quinta-feira, 18 de novembro de 2010
A economia local agradece, e os amantes de cracas também!
Foto: José Borges |
A produção de cracas em regime de aquacultura está a um passo de entrar no mercado açoriano. Depois dos estudos e do ensaio-piloto, o projecto do Departamento de Oceanografia e Pescas (DOP) chegou à fase de produção comercial, prevendo-se que em 2011 já exista uma ou até duas estruturas de dimensão comercial em pleno funcionamento. Este projecto, coordenado pelo cientista Eduardo Isidro, parece ter boas pernas para andar e assim contribuir para o desenvolvimento da economia da região, em particular das ilhas Faial e Pico. É, sem dúvida, um bom exemplo da ponte que se pode e deve fazer entre a excelência da academia e a vida real, pondo o investimento feito na ciência ao serviço da população.
quarta-feira, 10 de novembro de 2010
R.I.P Mário Machado Frayão
Morreu ontem o poeta faialense Mário Machado Frayão. Apartado da ilha há largos anos, foi incapaz de a esquecer, vertendo para a escrita as memórias que lhe apertavam o coração. Hoje, estão espalhadas em várias antologias de poesia açoriana e livros como "Enquanto o Mar se Renova", "Poemas do Mar Atlântico" , "Os Barcos Levam Nomes de Mulheres" e "Cartas de Marear". Foi-se o homem, ficam as suas palavras.
ELA TINHA OS OLHOS VERDES
«Ela tinha os olhos verdes
da cor das águas do Porto Pim
O anel
podia ser de Margarida
Clark Dulmo
Ainda vai chegar muita gente à Semana do mar
Sossegam as traineiras sobre um mar de luzes
e por cima das traineiras
sobre a nossa noite grasnavam garajaus
Descem
por uma escada em caracol
outras mulheres
que o sol e o mar nos entregam
cada dia mais formosas
Depois da Festa
(o melhor, além das moças,
bem moças e bem gentis,
mulheres de fala cantante,
foi quando as velas se ergueram nas canoas baleeiras
lembrando as asas de um pássaro)
depois da Festa
vou caminhar sobre a lava arrefecida
na costa da ilha negra
ilha da grande montanha.»
Mário Machado Frayão
(1952-2010)
quinta-feira, 4 de novembro de 2010
Isto é absolutamente escandaloso!
Se nos dias de hoje a governação do País já está dependente dos mercados internacionais, imaginem o que vai acontecer a partir de agora, que os partidos políticos vão passar a poder investir na bolsa. E eu que pensava que o inside trading era crime... Esta notícia é absolutamente escandalosa. E muito preocupante.
terça-feira, 2 de novembro de 2010
A Cadeia de Santa Engrácia
Perante esta notícia, começo a pensar que só quando houver uma revolta das grandes na sobrelotada Cadeia de Ponta Delgada é que as obras vão arrancar de vez. Está visto que gastar dinheiro com prisioneiros não dá votos!
segunda-feira, 1 de novembro de 2010
Estaremos condenados ao domínio das águas vivas?
Águas vivas nos mares do Pico (Foto: Paulo Pinheiro) |
O aquecimento das águas dos mares e o desaparecimento de algumas espécies de peixe, vítimas da pesca intensiva, são a explicação para o aumento da frequência de águas vivas nos mares da região Nordeste Atlântico, segundo um estudo de investigadores ingleses e irlandeses divulgado hoje pelo DN. O estudo é pertinente e deixa pistas importantes também para o futuro dos mares açorianos. Será esta também a explicação para o aparecimento de cada vez mais águas vivas nos nossos mares, que tantos transtornos causaram aos vereaneantes de todas as ilhas ainda este Verão? Estaremos condenados a ver as nossas águas ser dominadas por estas espécies gelatinosas? Ou haverá forma de repor o equilíbrio dos ecossistemas marinhos?
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