quarta-feira, 31 de março de 2010

Está quase na hora da CALF ir apanhar o barco...

A partir de hoje haverá menos 178 produtores de leite nos Açores, o que equivale ao resgate de quase 10 milhões de litros de quota e a uma compensação de 4 milhões de euros pagos pelo Governo. Sabemos que a quota agora resgatada vai para a reserva nacional, para depois ser redistribuída na região, de preferência na ilha onde foi gerada. Tudo muito certo e bonitinho, como dizem as notícias, não fossem os pormenores da indústria local e as circunstâncias particulares de cada ilha.

Vejamos o caso do Faial, uma ilha que há muito se debate com a falta de leite e que agora vai perder mais 20 produtores locais. Dos mais de 800 produtores que a ilha tinha em 1990, sobram apenas 150. Mas não se pense que a sua produção aumentou, fruto da redistribuição da quota resgatada. Pelo contrário, entre as ilhas produtoras de leite, o Faial é a única que não aumentou a sua produção desde a introdução das quotas leiteiras.

Há muito que se grita aos sete ventos a necessidade de aumentar a produção local, sobe pena de estrangulamento da sua indústria, mas os gritos têm caído em saco roto. Apesar do queijo Ilha Azul ter fama e qualidade reconhecida fora de portas, sem leite não há forma de haver retorno para o muito dinheiro investido na modernização das suas instalações.

A CALF segue numa crise sem fim à vista. Trocou-se o leite pela carne sem pensar nas consequências. E os 150 pequenos produtores que restam não chegam para satisfazer as necessidades da fábrica de lactícinios local, que precisa de 14 milhões de litros por ano para ser rentável. Do outro lado do canal, a situação não está melhor. Também o leite foi cedendo o seu lugar à carne, sem que a reconversão da agricultura tivesse sido feita de forma integrada. O leite quando falta, parece que é para todos.

E agora, pergunta o leitor, como vai o Faial sair desta? É fácil: fecha-se a CALF e manda-se os empregados de barco para outra ilha. Até às fábricas da Terceira ou São Miguel a viagem decerto não custa nada...

domingo, 28 de março de 2010

Com os olhos postos no amanhã do "Expresso das Nove"

Que melhor maneira de celebrar a maturidade de duas décadas que lançar as bases para um futuro melhor? Os vinte anos do Expresso das Nove deixam no ar os Desafios dos Açores para o Século XXI, uma edição especial com textos de 100 açorianos com os olhos postos no amanhã. De todos os quadrantes e sensibilidades, de diferentes saberes e experiências. Para ler com calma, saboreando os vários olhares e reflectindo sobre os diferentes caminhos propostos. Um exercício que todos devíamos parar para fazer.

Bons pontos de partida:

«Os Açores precisam de mais paixão e menos devoção por si mesmos.
Isto é, amar o que têm não como quem se ajoelha diante duma estátua imutável,
mas como quem quer fazer-lhe um filho. E criar novidade, revolução, futuro.
Outras vidas, outras gentes, outros destinos. Independentes.»
- Alexandre Borges

«Um desafio para os açorianos no século XXI?
Serem capazes de viver sem o paternalismo do Estado
– e, aliás, de ganhar eleições sem ele também.»
- Joel Neto

«Somos pequenos e poucos. Não podemos desperdiçar nada nem ninguém.»
- Sidónio Bettencourt

Triiiiim! Acorda pá, o futuro já começou. Hein???!
- José Medeiros

segunda-feira, 22 de março de 2010

Será que não aprendemos nada com os nossos avós?


A propósito do repto lançado pela associação ecológica Amigos dos Açores para recuperação do uso das cisternas açorianas, dei por mim a perguntar-me porque insistimos em ignorar algumas tradições e rejeitar os ensinamentos do passado, quase sempre sensatos e mais visionários do que então poderíamos supor. Desde a compostagem, que recupera a velha ciência dos estrumes, à recliclagem, que aproveita o que no passado se reutilizava até à exaustão, os saberes de ontem têm sido reinventados e modernizados, congregando à sua volta seguidores de uma causa maior, que é também de todos nós. Mas cuidar deste mundo que é nosso não pode ser tarefa só de alguns, nem moda que em breve irá passar. Neste dia Mundial da Água, um bem abundante para poucos e cada vez mais escasso para muitos, evoco aqui a imagem de uma cisterna de família e deixo no ar a pergunta: será que não aprendemos nada com os nossos avós?
Foto: LBulcão

domingo, 21 de março de 2010

Por detrás dos poemas

Poemas são dedos lisos,
sem rugas nem escaras marcadas,
são ritmos de outras vidas,
sem a dor das cargas pesadas.

Poemas são linhas tranquilas,
carregadas de paixão,
mas ocas de vida eterna
e ligeiras na sedução.

Poemas são versos pensados
para dizer o que não disseram,
pedaços de sentimentos
que alguns ainda carregam.

Lídia Bulcão

sexta-feira, 19 de março de 2010

Estranha vida nocturna


Por estes dias, as madrugadas faialenses já não são o que eram. A ilha começa a ganhar uma estranha vida durante a noite, e esta não é uma estranheza boa. Sucedem-se os casos de vandalismo, com maior ou menor dimensão, e o mais recente aconteceu no Porto da Horta. Uma cidade aventureira que se preze tem sempre o seu quê de desordem nocturna, muitas vezes fruto de uns copos a mais e juízo a menos. Mas quando a piada da noite passa a ser destruir o trabalho dos outros e deixar prejuízos brutais, é porque algo de muito errado se está a passar. Se as autoridades competentes não reforçarem rapidamente a vigilância nocturna, um dias destes o desfecho pode ser bem pior. E irreversível.
Foto: LBulcão

sexta-feira, 12 de março de 2010

O fim de um ciclo



Depois de um morte lenta e bem sangrada, a COFACO do Faial fechou hoje de vez as suas portas. Foi o último dia de trabalho para dezenas de trabalhadores e apenas 20 dos mais de 60 vão atravessar diariamente o canal para continuar a labuta na fábrica da Madalena. Aos restantes, restará o desemprego e a parca esperança de encontrar outro trabalho antes que termine o subsídio de desemprego (nos casos em que a ele têm direito). Saberá a ilha dar a volta por cima, e ultrapassar o actual atrofiamento dos seus sectores primário e secundário, que aqui o Mente Livre tão bem retrata? Ou estará condenada a depender mais do que nunca do funcionalismo público? E o que vai reservar o destino ao imóvel que durante décadas albergou a fábrica do peixe? Terá já a COFACO algum negócio debaixo da manga?

quinta-feira, 11 de março de 2010

Mais energia verde a caminho da ilha azul


A EDA vai investir 5,2 milhões de euros no Faial, um investimento que aposta na criação de um novo parque eólico na ilha e na ampliação da Central Térmica de Santa Bárbara. O reforço nas energias renováveis da ilha passa pela instalação de mais três aerogeradores, no valor de 855 mil euros, aumentando em 55% a capacidade de produção de energia eólica já instalada. Os pormenores estão na notícia do Tribuna das Ilhas, mas a notícia só pode ser vista com bons olhos, seja para a ilha ou para a região. Afinal, a energia verde só peca por ainda ser pouca.

Foto: Parque Eólico do Faial/ LBulcão

quarta-feira, 10 de março de 2010

Na cadeia da Horta até os guardas se queixam!


A notícia de hoje é mais uma prova de que a vida no Estabelecimento Prisional da Horta é um bom exemplo do País que temos. Os guardas queixam-se que são poucos e trabalham em condições precárias. Os prisioneiros, pelo contrário, são tantos que as celas onde mal cabe um chegam a abrigar três. O edifício precisa de reparações e obras urgentes, mas o dinheiro que vem da tutela nem chega para disfarçar a humidade das paredes. Ali, até as cadeiras estão no degredo, partidas e em parco número para sentar todos os que precisam comer. Nos impérios da ilha é capaz de haver centenas de cadeiras empilhadas para usar nos dias de festa, mas não há uma alma caridosa capaz de oferecer uma dúzia para sentar os que estão a pagar pelos seus pecados. Cá fora, ninguém parece preocupar-se muito com o que se passa lá dentro e os poucos que tentam fazer alguma coisa são assobiados pelas vozes que gritam "não vale a pena". Enquanto isso, a sociedade e os seus governantes desviam os olhos do que não interessa e a segurança da ilha é apenas um pormenor em que todos fingem acreditar.

terça-feira, 9 de março de 2010

Terra muito irrequieta a Oeste do Faial

Microssismos a oeste do Faial em número "superior ao habitual". A notícia que acaba de ser divulgada pela Agência LUSA não traz razões para alarme, segundo o CIVISA e pelo menos por enquanto. Mas é sempre bom estar com atenção ao fenómeno. Num mundo que não pára de dar sacudidelas arrasadoras e, em particular, numa região que há mais de dez anos não tem um sismo a sério, este indício poderá querer dizer que em breve teremos outras notícias menos tranquilizadoras. Pelo sim, pelo não, acompanhe a evolução aqui ou aqui e reveja os procedimentos em caso de sismo. Há sempre tempo para aprender com os erros cometidos no passado e até com os recentes, ainda que de paragens mais longínquas como o Haiti e o Chile.

De frente para o tempo dos homens

Torre do Relógio, na Horta (Foto: LBulcao)

segunda-feira, 1 de março de 2010

A caminho da ilha, para um último adeus





A matriarca partiu.
Leva com ela dores e memórias
de um tempo que foi e já não volta.

Procuro o seu rosto
e sinto o frio de um reinado
que chegou ao fim.

Fecho os olhos e sinto
o calor dos ensinamentos
que me deixa.

Hoje, o seu corpo desce à terra
e com ele tantos sentimentos
que ficaram por dizer.

Foto retirada de: ensinodominical.com.br