sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

Os sonhos não têm idade

Não há idade para concretizar sonhos, mesmo os mais improváveis. Prova disso é a história deliciosa de Rosa do Carmo, uma idosa de São Roque do Pico que aos 102 anos vai cumprir um desejo com décadas e entrar pela primeira vez dentro de um avião. Os pormenores estão no Sol online e mostram que o importante é continuar a sonhar.

quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

A eterna magia da Montanha

Há prazeres que todos deviam experimentar pelo menos uma vez na vida. Escalar uma montanha é um deles. Mas há escaladas cujo prazer é suplantado pelo maravilhoso espectáculo que a Natureza nos oferece ao longo da viagem, como acontece na ilha negra. Para quem ainda não teve oportunidade, ou quer apenas matar as saudades, nada melhor do que este pequeno filme, da autoria de Alexandre Jesus, que descobri através de Anatomia dos Sentidos. Ver este vídeo é redescobrir a magia da subida ao Pico. Soberbo!



THE MOUNTAIN OF ATLANTIC OCEAN from Alexandre Jesus on Vimeo.

quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

Paredes de hoje


Olhando as paredes de hoje, não é difícil imaginar as paredes de ontem. Onde hoje reina a humidade e trabalha o caruncho, ontem cheirava a tinta fresca, pincelada com a energia de uma vontade quase perfeita. Uma vontade que poderia ter ultrapassado as fronteiras da pequenez. Mas que preferiu cultivar as ervas daninhas e arrancar as que davam fruto certo, esquecendo que as primeiras nunca se limitam ao seu território.

terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Em solidão








Buraco fundo,
vazio de imensidão,
sofrido de apartamento,
esvaído em solidão.

Lídia Bulcão


segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Escultura à solta na cidade

Parece que há escultura à solta na cidade. A exposição “O avolumar do habitat”, do artista alemão Volker Schnuttgen, está na Horta para avolumar os horizontes faialenses. Mais pormenores aqui.


sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

No lugar dos sonhos


Ontem, um amigo realizou um sonho. E eu quedei-me por entre um misto de inveja e admiração. Observei o homem, folheei a obra e descobri que o segredo é não sonhar. Basta "escrever enquanto todos dormem".

De Herberto para Eugénio, sem esquecer Nemésio

Através do Bibliotecário de Babel descobri no site da revista cultural A.23 a existência de uma carta inédita escrita por Herberto Hélder a Eugénio de Andrade em 2000. A carta, publicada agora a propósito da passagem do aniversário do poeta, pretendia ser apenas um elogio maior à sua obra, mas revela-se uma saborosa e surprendente análise pessoal à poesia do século XX.
«Não há nenhum poeta português que possa ombrear consigo neste meio século», escreve Herberto Helder, para quem «não existe um só verso que deva ser eliminado" em toda a obra de Eugénio.
E por entre os nomes maiores que o irreverente poeta madeirense cita, surge também o mestre Vitorino: «Nemésio, que considero um poeta enorme, possui, quanto a essa "ciência artesanal", algo que é menos isso do que uma estonteante agilidade filosófica e uma perigosa facilidade verbal e versificatória. Nem sempre se aguenta bem com esses dotes».
Sem dúvida, um valioso documento que vale a pena ler na íntegra.

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

Tertúlia para continuar Fazendo


Em tempos de crise, nada como ser criativo para provar que merecemos um lugar ao sol noutro futuro. Prova disso é a Tertúlia Artística que a agenda cultural faialense Fazendo está a organizar para angariar fundos para manter o projecto em andamento. Um bela iniciativa, que pode servir de exemplo a muitos outros, cujo desespero parece bloquear a criatividade. É no próximo sábado, dia 24, na CASA. Mais pormenores aqui.

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

Mergulhe em dias mais azuis

Orcas ao pôr do Sol © Nuno Sá


Para não perder o rumo ao novo ano e ainda assim escapar à rotina dos dias cinzentos, nada como mergulhar no calendário de 2009 que a revista National Geographic oferece com a edição deste mês de Janeiro. As fotografias que ilustram os meses do novo ano foram captadas com a mestria do fotógrafo da vida selvagem Nuno Sá e mostram o melhor que o mar dos Açores têm para oferecer. São imagens intensas, que nos mostram uma realidade mais azul e quase perfeita. Tão perfeita como a imagem da capa do calendário, que valeu ao fotógrafo português, nascido no Canadá e actualmente a morar nos Açores, o prémio Wildlife Photograher of the Year no final de 2008.

sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

Para morder o coração dos ilhéus


Estarreci às primeiras linhas do romance Morder-te o coração, de Patrícia Reis. «Tu já não te lembras. Foi há dez anos, neste mesmo quarto, a olhar o Pico, os barcos, o azul-cinza do mar calmo(…)». Ninguém me tinha avisado que o livro falava dos Açores.

Continuei a ler e depressa percebi que a «viagem alucinante pelos labirintos do desejo e da solidão», de que falava a contracapa, tinha como cais de partida um quarto de hotel com vista sobre o mar, os barcos e, ao fundo, o Pico.

Confesso que me enchi de orgulho (tolo, mas ainda assim orgulho) por o mote deste pequeno livro de bolso, editado em 2007 pela Booket, ser uma história de amor vivida num Verão Perfeito na ilha (embora o Faial nunca seja nomeado, a referência à marina deixa no ar que hotel é faialense).

Mas a verdade é que o orgulho tolo depressa ficou esquecido na voragem das linhas, feita quase de um trago, sorvendo os sabores, os cheiros e sobretudo os sentimentos que o pequeno romance transpira.
José Eduardo Agualusa chamou-lhe um livro “precioso (e raro)”. E eu poderia chamar-lhe muitas outras coisas, quase todas perfeitas. Mas prefiro antes deixar aqui três pequenos excertos, que me morderam o coração, por serem soberbos na musicalidade, na poesia das emoções e na transparência do sentimento ilhéu.

«Tinhas inveja da ilha por ter mar, por ter liberdade, mas contavas histórias
sobre as barcas nos rios e foi contigo
que aprendi que quem navega
não sabe conversar porque o rio tece mistérios vedados às palavras.»
(
Pag. 12)
«A ilha estava congelada no nosso abraço. Nos teus pensamentos era tudo o que fazia sentido.
Eu tinha um prazo. Uma vida à minha espera, um regresso feito de poucas memórias.
Ficarias em terra, náufrago de mim, sem perceber os destroços de nós.»
(Pág. 14)

«À mesa, encostado a uma almofada gigante, ele contou da ilha, do colégio de padres,
da caça às baleias, da ideia de partir e ainda da tristeza de se ser de uma terra com fim,
como quem vive num precipício, um fugaz pedaço de chão.»
(Pág. 109)

terça-feira, 13 de janeiro de 2009

O meu tributo aos Xutos


Aí estão eles mais uma vez, prontos para conquistar o mundo, como se já não fossem donos e senhores do rock português e dos nossos corações. Hoje, em Lisboa, os Xutos e Pontapés vão apresentar "Quem é quem" aos amigos, descortinando o novo albúm, que deverá sair em Março. Trinta anos depois, continuam iguais a si próprios. Rebeldes, interessantes, originais. Foram um marco para a minha a geração, que cresceu a ouvi-los. Fizeram-se "homens do leme" sem fugir ao "circo de feras" e, sobretudo, sem nunca envelhecer. E, hoje, trinta anos depois, provam à "vida malvada" que são absolutamente incontornáveis.
Parabéns trintões!

domingo, 11 de janeiro de 2009

As ilhas desconhecidas de Vicente Jorge Silva


Em breve, muito em breve, As Ilhas Desconhecidas vão renascer na RTP pela mão de Vicente Jorge Silva, que transformou em série de televisão a célebre viagem de Raúl Brandão aos Açores e à Madeira. Com ante-estreia agendada para o próximo dia 21, em Ponta Delgada, o ambicioso projecto de quatro episódios promete dar que falar.
Mas enquanto não estreia, aproveito para evocar aqui uma crónica do realizador madeirense, escrita com a sua talentosa pena de jornalista e o seu indisfarçável coração de ilhéu. Encontrei-a, por acaso, na revista UP (da Tap) de Agosto e não podia vir mais a propósito. Não só levanta um pouco do véu deste projecto - mantido sob enorme low-profile -, como ainda deixa no ar aquele rasto das coisas que não podemos perder.



«ILHAS DESCONHECIDAS

Faz agora precisamente um ano que iniciei uma experiência inesquecível. Durante cerca de três meses, percorri as onze ilhas habitadas dos Açores e da madeira, tendo por guia um dos clássicos mais famosos - senão o mais famoso - da literatura portuguesa de viagens: As Ilhas Desconhecidas, que Raul Brandão escreveu em 1924.
Não viajei sozinho e sem objectivo definido, entregue simplesmente à aventura, o que também poderia ter acontecido. Havia um projecto para concretizar: uma série de televisão de quatro episódios na qual eu e a minha equipa procurámos surpreender sinais do que ficou e do que desapareceu desde a viagem de Brandão.
Há 84 anos, as ilhas - sobretudo as mais pequenas e excêntricas - permaneciam fortemente marcadas pelo isolamento ancestral e por situações de imenso dramatismo humano. Todo esse panorama foi-se transformando profundamente, à medida que se generealizaram as ligações áreas e se reduziram as carências extremas em que viviam as gentes insulares.
Inevitavelmente, aquilo que era singular e específico do universo das ilhas tendeu a ser uniformizado por padrões de vida cada vez mais indiferenciados, globais. Desse ponto de vista, As Ilhas Desconhecidas descritas por Raúl Brandão mudaram essencialmente no plano social e tornaram-se quase irreconhecíveis.
Entretanto, por mais paradoxal que pareça, isso não eliminou o mistério e a magia que as torna inconfundíveis num mundo asfixiado pela uniformização. Pelo contrário, pode dizer-se que o espírito original das Ilhas Desconhecidas se afirma hoje num contraste talvez mais radical com esse mundo envolvente - fora e também dentro das próprias ilhas.
Até na Madeira, onde nasci e vivi, ou no Porto Santo, onde passei alguns verões maravilhosos numa infância já longínqua, é possível escapar ao cerco do turismo de massificado, se estivermos disponíveis para um encontro com os espaços selvagens e o tempo suspenso de uma beleza primitiva e intacta, que nos convidam a mergulhar no fundo de nós mesmos.
O apelo do desconhecido que conquistou Brandão ainda bate no coração das ilhas, incluindo aquelas que o betão turístico ameaça desfigurar. Em pouco quilómetros, passamos da trepidação do litoral da Madeira ao sortilégio das montanhas onde se respira ainda a atmosfera do velho romantismo europeu transposto para o exotismo dos trópicos e a solidão atlântica.
Na vertigem silenciosa das serras madeirenses, atravessando a floresta exuberante da laurissilva, perseguindo o som da água que corre ao longo das levadas, somos transportados para uma dimensão onde o sagrado se insinua, um desconhecido feito de paz e harmonia interiores. É tudo uma questão de desejo, de querer verdadeiramente descobrir esse desconhecido. Na ilha, nas ilhas, dentro de nós - ilhas que também somos no imenso arquipélago do mundo.»
Por Vicente Jorge Silva, in revista UP, Agosto de 2008

quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

Baús destrancados

Cheguei a casa sem ter regressado, como se ainda estivesse lá. Ando pela casa, perdida por entre os largos corredores da memória. Evito traçar percursos de sonho e acabo sempre em portos amargos, onde o cais de desembarque está longe de ser um abrigo seguro. Uma parte de mim quer terminar a jornada, outra insiste em prolongá-la ad eternum. Estou cansada de viagens doridas, percorridas com a força da dor fulminante e a velocidade das coisas maravilhosas. São sempre tão fugazes quanto esgotantes. Desejo-as tanto, que passo o ano a tentar esquecê-las. Hoje, decidi aterrar. Preciso deixar o velho no lugar a que ele pertence. Só assim conseguirei abraçar o novo sem baús trancados no porão.

sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

O 2009 que eu desejo

As boas vindas a 2009 (Crédito: Agência Zero)


Regressada da ilha e da viagem pela memória dos sentidos, é tempo de entrar no futuro que o Novo Ano nos quer trazer. Mas porque este Réveillon me esqueci das passas, deixo os meus 12 desejos para 2009, na esperança de que este mundo virtual os torne eternos:


1- Que o tempo corra mais devagar do que o relógio,
2- Que a esperança floresça sem ser na Primavera,
3- Que a saúde seja mais forte do que o corpo,
4- Que o dinheiro seja o suficiente para não me tirar o sono,
5- Que o meu filho cresça livre de perigos,
6- Que o meu marido volte sempre do mar,
7- Que os laços de sangue sejam mais fortes do que a Natureza,
8- Que os amigos não esqueçam a morada cá de casa,
9- Que os inimigos me olhem sempre com respeito,
10- Que o trabalho me dê prazer,
11- Que a escrita me faça uma pessoa melhor,
12- Que quem me esteja a ler saiba aproveitar o melhor que o Novo Ano vai trazer e enfrentar de pé o pior que possa aparecer.

Feliz 2009 para todos!