Mesmo em plena campanha eleitoral, pensar a política continua a ser uma necessidade urgente, por isso deixo aqui uma recomendação para a leitura do post do Máquina de Lavar sobre a renovação partidária, a que acrescento o meu próprio contributo:
1º A meu ver, a falta de interesse dos cidadãos e a indisponibilidade para trabalhar pelo bem comum são talvez os sintomas mais graves do estado da nossa política. Muitos pensam que estão a castigar os políticos com a abstenção, mas estão antes deixar-lhes carta branca para decidirem a seu bel prazer. Acredito que se todos nos empenhássemos numa cidadania mais activa, a política teria mais valor. Mas na política, como na vida, não basta exigir tudo a todos - é preciso também dar uma parte de nós. O primeiro grande passo a dar passa talvez pelo combate ao crescente egoísmo da nossa sociedade. O maior problema é que é muito mais fácil olhar para o nosso umbigo do que para o dos outros...
2º A limitação de mandatos é como a lei da paridade - não deviam ter de existir numa democracia saudável, mas às vezes são muito necessárias...
3º Acho que a renovação é necessária nos partidos, mas a experiência e a sabedoria da idade não podem ser menosprezadas. Nem nos partidos, nem na vida. Na nossa sociedade há uma tendência para menosprezar os mais velhos, como se fossem trapos, mas a idade e a experiência são óptimos conselheiros. O problema maior são os vícios (os do sistema e os outros), que muitas vezes se instalam por falta de gente nova que os combata com energia. Quando aos 27 anos assumi a co-direcção do Tribuna das Ilhas, tinha um director com 75 anos e foi uma das experiências profissionais mais enriquecedoras que tive. Ganhei eu, ganhou ele, ganhou a jovem equipa, ganhou o então recém-nascido jornal e ganhou sobretudo a ilha, que ficou enriquecida com o trabalho realizado em conjunto. Talvez se novos e velhos trabalhassem juntos mais vezes, tudo fosse bastante diferente. Na política e na vida.
4 comentários:
Cara Lídia Bulcão,
antes de mais, agradeço a sua intervenção nesta questão que a todos nos diz respeito e deve interessar.
Em relação aos dois primeiros pontos do seu comentário, creio que o meu ponto de vista está explícito no post e no comentário anterior. Em suma, concordo, no essencial com o que escreve, embora no que toca ao ponto 1 eu culpe mais os "actores", do que os "espectadores", pelas razões apresentadas.
Quanto ao seu 3º ponto, percebo o que quer dizer.
Mas reforço a ideia de que a "experiência" deve advir de uma vida profissional, para depois ser transposta para a politíca.
Estou certo de que não defenderá que a "esperiência e sabedoria" devam ser conquistadas através da permanência num cargo público ou político durante muito tempo....(ainda que no seu 2º ponto se manifeste, de certo modo, contra a limitação de mandatos).
É que eu não concebo bons politícos sem uma vida profissional própria e sem uma sabedoria conquistada ao abrigo de uma actividade de "terreno". A teoria nem sempre vai de encontro à prática. Quem desconhece as amarguras de uma vida profissional, e as especificidades de determinada àrea, dificílmente pode apresentar medidas que melhorem ou vão de encontro à resolução dos problemas sentidos por quem esteve por dentro. Este é um ponto essencial para que os eleitores sintam respeito por quem vai a votos, e se sintam impelidos a votar.
Os mais jovens podem, e devem, beber da experiência e sabedoria dos mais velhos. Mas estes últimos podem transmiti-la sem permanecer nas estruturas e cargos politico-partidários. Caso contrário, agarram-se ao poder, por temerem ser apagados e/ou esquecidos, e por se habituarem a ser sempre os timomeiros.
Aqueles que têm a generosidade de contribuir para o bem comum, devem também ter o desprendimento necessário para saber dar o lugar a outros, ainda que permaneçam na retaguarda apoiando e instruindo os mais novos.
cumprimentos
Caro Pedro,
Também concordo plenamente com a necessidade de levar alguma experiência da vida profissional para a política. Os saberes podem e devem ser transversais, para melhores resultados. Até porque só quem já "viveu" alguma coisa é que pode decidir em consciência sobre a vida real dos outros...
Também concordo que é necessário saber sair dos cargos, mas acho que a idade avançada não pode ser o critério. O que interessa é se o contributo ainda é válido ou se, como sugere, poderá prestar um melhor serviço nos bastidores. Cada caso é um caso e as generalizações tendem a ser perigosas.
E atenção: eu não escrevi que era contra a limitação de mandatos, mas apenas que era um mal necessário... Numa democracia perfeita, julgo que não haveria essa necessidade. Mas não existe tal coisa como uma democracia perfeita, pois não?
Cara Lídia Bulcão,
tem razão na sua chamada de atenção.
Se reparar, a única modificação que fiz no meu comentário quando o transpus para esta caixa de comentários, foi acrescentar "de certo modo" à minha observação ao seu ponto 2.
Fi-lo, exactamente por ter relido o seu comentário e observado que não era categoricamente contra a limitação de mandatos.
Respondendo à pergunta com que termina este seu último comentário, estou, uma vez mais, de acordo consigo: Não. De facto, não creio que o melhor dos regimes conhecidos conceba a perfeição.
Cumprs.
Como todos sabem, não há sistemas perfeitos, logo, a democracia tem de ter os seus defeitos. O importante é esses defeitos sejam combatidos, com limitação de mandatos ou outras medidas.
As pessoas têm que perceber que a abstenção não resolve nada, apenas permite que a alguns incompetentes seja permitido ocuparem cargos públicos, através da eleição por uma minoria de votantes.
As pessoas têm de perceber que enquanto não se inventar um sistema melhor que a democracia, é neste sistema que têm de viver, então, usem da melhor maneira a arma que têm, o voto! Ao mesmo tempo exijam...mas exijam mesmo, a responsabilidade dos eleitos.
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