Cada vez que folheio imagens do passado, sinto-me viajar para um outro tempo, quiçá outra vida. E lembro-me das palavras de José Eduardo AguaLusa, no seu romance Vendedor de Passados:
«A memória é uma paisagem contemplada de um comboio em andamento. (…) São coisas que correm diante dos nossos olhos, sabemos que são reais, mas estão longe, não as podemos tocar. Algumas estão já tão longe, e o comboio avança tão veloz, que não temos a certeza de que realmente aconteceram. Talvez as tenhamos sonhado. Já me falha a memória, dizemos, e foi apenas o céu que escureceu.»
Sátira feroz à actual sociedade angolana, este maravilhoso romance é também um mergulho sem escafandro no mundo da memória e dos seus equívocos. Lembra-nos quão fácil é o passado entrar pelo presente adentro, com a força de um oceano revolto, que não mede as forças e provoca estragos. Mas também nos faz perceber quão frágeis são as recordações que constroem a nossa vida e nos preenchem os vazios.
Recomendo uma espreitadela à vida de Félix Ventura, o vendedor de passados falsos. Garanto que a leitura é vertiginosa.
3 comentários:
Muy interesante tu blog! sigue así!
"O vendedor de passados" é um dos vários livros que comprei recentemente para descobrir de uma forma abrangente a literatura lusófona fora de portugal, por isso, não sei se será o próximo, mas se tudo correr como previsto, será um dos próximos.
Presentemente costumo ler um livro em português, alternado com um de literatura canadiana anglófona, como o actual é de pequena dimensão, não sei ainda se lerei 2 na nossa língua consecutivamente.
Este lusófono é um pouco como eu, vive entre o cá e o lá, mas neste caso com um pé em Luanda e outro em Lisboa.
Mas agora ou depois, o importante é que o leia, porque vale mesmo a pena. Não é por acaso que foi premiado com o Prémio Independent para Ficção Estrangeira!
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