Passaram 11 anos desde que ouvi o
Torcato Sepúlveda gritar pela primeira vez, nos tempos da refundação do Semanário. Foi uma daquelas explosões vindas do fundo da sua rouquidão e fez parar toda a redacção.
O grito não era mais do que intempestiva indignação, perante uma pergunta de somenos importância. Mas fez-me tremer a mim, então estagiária, dos pés à cabeça. E percebi que para ele até as coisas de somenos importância tinham a força das coisas sérias.
Anos mais tarde, reencontrei-o na redacção d'A Capital e ouvi-o gargalhar com a leveza dos grandes corações. Por entre os prazeres da Grande Lisboa, parecia ter descoberto que a rir também se podia tratar das coisas sérias.
Esta noite, perante a notícia da sua morte, presto-lhe a minha homenagem. Mas não sou capaz de lhe dizer adeus. Porque não há adeus para as pessoas eternas. E o Torcato Sepúlveda era um desses raros seres com a capacidade de tocar na nosssa vida só com uma palavra, fosse ela escrita, falada ou até mesmo gritada.
A fúria da sua Natureza era também a força do seu coração. E não há adeus para pessoas assim. Não há adeus. Mas há saudade. Eterna. Tal como ele será sempre.