quinta-feira, 30 de setembro de 2010

O País já não está de tanga. Está nu!

Imgem retirada do blogue Activismo de Sofá

De nada serviu tapar os olhos com a peneira, porque a realidade acaba sempre por mostrar aquilo que muitos insistem em não querer ver. O País já não está de tanga. Está nu. Completamente nu. Despido de tangas e outros fios dentais, criados por um Governo que só pensou no estilo e na sedução dos portugueses. Agora, sem ter qualquer trapo para se cobrir, o País vai ter de correr mundos e fundos para se manter aquecido durante o Inverno que aí vem. Um Inverno longo e penoso, como poucos acreditaram ser possível. E não se iludam os açorianos, porque a região também vai pagar a sua parte da factura para não enregelar os ossos. Quando a coisa aperta, é como escreve director do Jornal de Negócios, Pedro Santos Guerreiro: «Nestas alturas, somos sempre todos iguais. Eles contam connosco. E nós não contamos com mais ninguém

terça-feira, 28 de setembro de 2010

Assim, não há maravilha de Portugal que faça milagres!



Como é que é possível que nos dias de hoje ainda haja quem despeje mais de 300 quilos de pasta de queijo numa ribeira? Um volume desta Natureza não é apenas inconsciência ambiental, é criminoso mesmo... Assim, não há maravilha de Portugal que faça milagres!


segunda-feira, 27 de setembro de 2010

A força de um Vulcão à porta de casa


Lídia Bulcão, in jornal Meia-Hora, de 27/09/2007

A propósito da passagem dos 53 anos sobre a primeira erupção do Vulcão dos Capelinhos, deixo aqui o recorte de uma crónica publicada há três anos no extinto jornal Meia-Hora. À excepção do número de anos, as minhas palavras continuam hoje tão actuais como então. (Para ver o texto maior, basta clicar na imagem.)

terça-feira, 21 de setembro de 2010

Lugares assim

Foto: LBulcão

Há lugares nessa imensa geografia que nos fazem sentir como pequenos grãos de areia, perdidos na engrenagem da vida. Há lugares nas profundezas da terra que nos mostram a força que nem sonhamos ter e a energia que nos faz renascer. Há lugares dentro desse mar profundo cuja doçura nem imaginamos existir. Há lugares nascidos da pedra que são mais quentes que a corrente de lava. Há lugares feitos de carne e osso que são mais secretos que os desejos reprimidos. Há lugares que nunca pensámos desbravar, até descobrirmos que não conseguimos viver sem os percorrer. Há lugares assim no imaginário dos dias, que de repente nos fazem retornar das cinzas.

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

A fusão dos sentidos com os prazeres das ilhas

Angra do Heroísmo (Foto: LBulcão)

Para encerrar as férias em grande, nada como a fusão dos sentidos com os prazeres que só as ilhas têm para oferecer. A delicadeza de umas cracas fresquinhas a desfazerem-se na boca e a intensidade de umas lapas grelhadas a prender-nos o paladar. O cheiro da maresia que nos entra pelo nariz dentro e o calor da areia que nos emprenha os sentidos. O vento a despentear-nos pelas encostas mais altas e o silêncio da terra que vem das profundezas. A cor das fachadas e das varandas floridas, que vão serpenteando a cidade e as suas calçadas. A magnitude da noite e das conversas perdidas por entre ruelas singelas e esplanadas sentidas. O sorriso das gentes que fazem da estrada o seu trilho pedestre, carregando na alma votos eternos e desejos secretos. A energia da música que nos preenche a alma e o valor das amizades que não se perderam nas ruínas do tempo. Foi assim o meu último fim-de-semana de férias nos Açores. Quase perfeito!

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Bossa Nossa!!!


Foto: LBulcão

Depois de muitas tentativas frustradas, consegui finalmente passar pela ilha Terceira em dia de concerto do Bossa Quartet (agora Bossa Quinteto), um grupo terceirense que está a virar uma instituição, com fãs em crescendo e fama merecida. A imagem não está perfeita, mas dá para terem uma ideia do excelente ambiente que se viveu sábado à noite na esplanada do Café Central, em Angra do Heroísmo. As cadeiras não chegaram para todos os que aparecerem e a escadaria da igreja virou um animado anfiteatro. Com Claudiana Cau na voz, Duarte Dores na Guitarra e voz, Paulo Cunha no baixo, Rui Melo no saxofone e Dudu Costa na percursão, este Quinteto é uma aventura açoriana pelos ritmos brasileiros da Bossa Nova, MPB e Samba. Cinco nomes que são, sem dúvida, sinónimo de uma noite muito bem passada. Por mim, repetia já amanhã...

Quando todos os caminhos da Terceira vão dar à Serreta


Fotos: LBulcão


Não conhecia a tradição terceirense de fazer romaria a pé até ao santuário da Serreta por ocasião da festa de Nossa Senhora dos Milagres, mas confesso que fiquei impressionada com o que vi no último fim-de-semana. Só no sábado à tarde, e no espaço de três horas, contei mais de 700 caminhantes entre Angra do Heroísmo e a Serreta, um percurso que ronda os 20 km e que a maioria faz em cerca de 7 horas de caminhada. Ao todo, terão sido certamente mais alguns milhares, a ver pela afluência das ruas, que começou na quinta-feira e se prolongou pelo domingo dentro. Vinham de todos os cantos da ilha e não se pode dizer que fossem romeiros típicos. Uns iam de chinelos, outros de ténis, alguns mesmo descalços, mas havia-os de todos os géneros: velhos e novos, crianças e jovens, pagadores de promessas e escuteiros, casais e grupos, desportistas e solitários. A maioria trazia mochilas às costas ou garrafas de águas nas mãos, mas também se viam velas de vários tamanhos e feitios e outros que não traziam nada mas paravam em todas as tascas ou roulottes que apareciam pelo caminho. O passo dependia do ritmo e do cansaço, mas todos mostravam uma vontade inabalável de chegar à Serreta. E fossem quais fossem os seus motivos, a verdade é que provaram que só lá vai quem quer. E quem quer pode.

sábado, 11 de setembro de 2010

Enfrentar as vergonhas e resgatar as glórias

Caminhando pela avenida numa destas noites maravilhosas que o final de Verão ainda nos vai proporcionando, dei por mim a relembrar as palavras de um turista amigo: «Isto é, ou não é, uma cidade portuária?» A pergunta trazia água no bico. «É que não vejo "casas de meninas" em lado nenhum!», dizia ele, com um sorriso maroto, argumentando que qualquer cidade portuária que se preze tem, ou teve, a sua casa de "meninas".


Goste-se ou não, a verdade é que ele tinha a sua razão. E se hoje não se conhece qualquer casa desse género na cidade, a verdade é que em tempos idos a Horta terá tido as suas “meninas” circulando pelos bares da noite ou escondidas no velho “Barco do Amor”, entre outros locais menos próprios para a moral e os bons costumes de qualquer terra que se preze.


Hoje, olhando para as fachadas da nossa cidade, não há nada que nos faça ecoar esse tempo em que os marinheiros escalados na cidade frequentavam ruas ou casas consideradas menos próprias. Contudo, isto não significa que não existiram, mas apenas que se há coisa que a Horta soube bem esconder foi esse lado menos glamoroso de uma cidade portuária.


Até aqui, menos mal. O problema é que os mesmos que deixaram cair no esquecimento o lado menos próprio de uma cidade portuária, estão também a deixar desaparecer o outro lado desse passado, bem mais rico e merecedor do olhar atento de todos quantos nos visitam, mas cada vez mais enterrado no esquecimento dos anos e das vozes que vão desaparecendo de entre os vivos.


Se ainda houver dúvidas, falo das histórias e dos feitos de uma cidade que foi grande muitas vezes e quase sempre graças ao mar, desde o tempo das caravelas aos navios baleeiros, passando pelos cabos submarinos e pelos hidroaviões, sem esquecer os muitos exércitos que nela descansaram as suas frotas marítimas ou até mesmo os milhares de iates que a escalam ano após ano. Falo do passado de uma cidade que soube usar o mar para ultrapassar as suas fronteiras e as dos outros, mas não está a saber cuidar do seu património marítimo-cultural para nele edificar um futuro de raízes sólidas.


Ainda há pouco tempo o arqueólogo José Bettencourt, do Centro de História de Além Mar da Universidade Nova de Lisboa, dizia nas páginas do “Tribuna das Ilhas” que os vestígios arqueológicos da baía da Horta “são únicos a nível nacional”, referindo-se a um achado recente que se calcula remontar ao naufrágio de um navio inglês no início do século XVIII. E, a propósito, o arqueólogo lembrava o óbvio: que a cidade da Horta precisa, e urgentemente, de um discurso museográfico ligado ao mar.


«À excepção da fábrica da Baleia, não conheço na Horta nenhuma instituição museográfica ou com exposições sobre o passado marítimo da cidade, e acho que é uma falha em termos de produto, quer para consumo interno, quer para vender para o exterior», afirmava então o arqueólogo. E as suas palavras fazem tanto sentido que não podem ser ignoradas, sobretudo por quem tem o dever de preservar e divulgar a cultura que é de todos nós.


Não quero aqui discutir questões políticas, técnicas, orçamentais, ou outras que tais em torno da criação de um futuro museu (ou museus) ligado ao passado marítimo da cidade da Horta, mas apenas deixar mais um alerta para que a oportunidade não volte a ser desperdiçada.


O caminho para o futuro pode e deve ser feito a partir do passado, mas antes é preciso reconhecer a sua importância e mostrar disposição para o preservar. Quando estes dois factores finalmente se conjugarem, tudo o resto será uma questão de pormenor.


À semelhança do que acontece com o património geológico e ambiental do Faial, também o seu património marítimo está recheado de feitos dignos de registo e edifícios com história, que merecem a devida preservação e divulgação, contribuindo inclusive para contextualizar a existência de uma cidade que pelo mar se tornou “a maior cidade pequena do mundo”, como em tempos lhe chamou o poeta Pedro da Silveira.


E se pelo caminho tivermos também de enfrentar algumas vergonhas e revelar aos nossos filhos onde ficavam as casas de “meninas” desta mítica cidade portuária, será certamente um baixo preço a pagar pela certeza de que os nossos verdadeiros feitos vão ficar de herança às gerações futuras e a todos os visitantes que um dia ousem desembarcar na Horta.


Lídia Bulcão, in Tribuna das Ilhas, 10/09/2010