quarta-feira, 25 de março de 2009

O erotismo de João de Melo


Já chegou às livrarias nacionais o novo livro do consagrado escritor açoriano João de Melo. «Luxúria Branca e Gabriela» é um conto erótico com ilustrações de Francisco Simões e a chancela das Edições Nelson de Matos. Uma ediçao única, a não perder.

segunda-feira, 23 de março de 2009

Os Açores de John Updike

Chegou-me há pouco pelo correio o jornal Tribuna das Ilhas desta semana, trazendo a bordo um folheto comemorativo do Dia Mundial da Poesia. Sei que o dia já passou (21 de Março foi sábado), mas não resisto a postar aqui o poema do escritor norte-americano John Updike, que as Bibliotecas Públicas dos Açores nos convidavam a ler nesse dia. Originalmente publicado na Harper's Magazine, em Janeiro de 1964, e posteriormente traduzido para português por Jorge de Sena, é um legado de prestígio para a nação açoriana.



AZORES

Great green ships
themselves, they ride
at anchor forever;
beneath the tide

huge roots of Lava
hold them fast
in mid-Atlantic
to the past.

The tourists, thrilling
from the deck,
hail shrilly pretty
hillsides flecked

with cottages
(confetti) and
sweet lozenges
of chocolate (land).

They marvel at
the dainty fields
and terraces
hand-tilled to yield

the modest fruits
of vines and trees
imported by
the Portuguese:

a rural landscape
set adrift
from centuries ago;
the rift

enlarges.
The ship proceeds.
Again the constant
music feeds

an emptiness astern,
Azores gone.
The void behind, the viod
ahead are one.


John H.Updike (1832-2009)

quinta-feira, 19 de março de 2009

Pensando a ilha no seu global



Cinco personalidades ligadas à vida política e cultural da ilha abordam o passado, presente e futuro do Faial num suplemento do Expresso das Nove, publicado no final de Fevereiro mas que só agora li por inteiro. À parte as conversas políticas do costume, guardo aqui três excertos para o futuro.

«A ilha não é só cais aberto ao mundo, umbigo do Atlântico, sentinela avançada, ou espaço geo-estratégico - é, sobretudo, lugar de cultura e culturas. Nela habita um povo sábio, historicamente definido, dotado de um imaginário e de uma memória, possuidor de uma cultura e de uma identidade própria. Acima de tudo, temos que ter a consciência de que é através da cultura que poderemos marcar alguma diferença neste mundo em acelerado processo de massificação e globalização.»
Victor Rui Dores


«O cosmopolitismo, reconhecidamente saudado, que perpassou e perpassa pelas gentes faialenses resulta, fundamentalmente, da capacidade de assimilar as novas correntes culturais que ventos e marés fizeram escoar na sua abrigada baia, onde, até, a futura nação americana encontrou espaço de luta para a sua independência. Como em todas as existências, tem sido cíclico o viver faialense. Períodos de abundância contracenam com arreliantes momentos de penúria e de descalabro resultantes desta nossa intrínseca teluricidade, mas, como também é apanágio deste povo ilhéu, a luta pela sobrevivência (na Ilha ou na estranja) continuou a selar o carácter e o denodo das suas gentes.»
Ruben Rodrigues

«É tempo dos faialenses olharem para a frente e criarem os caminhos equilibrados para um desenvolvimento harmonioso, onde a justiça social seja um valor vivo e real, onde a preservação e equilíbrio ambiental seja uma constante, onde a economia produtiva seja uma realidade viva mas não delapidadora dos recursos, tudo isto num quadro de respeito pelas pessoas e de construção de uma sociedade mais culta, mais solidária, mais humana, mais aberta e mais empreendedora.»
José Decq Mota

quarta-feira, 18 de março de 2009

Um pré-reconhecimento da sacralização dos Capelinhos




















Fotos: LBulcão


«O novo Centro de Interpretação do Vulcão dos Capelinhos é uma das obras portuguesas selecionadas ao Prémio Mies van der Rohe, que se tornou o prémio oficial de arquitectura da União Europeia e é actualmente um dos mais prestigiados prémios mundiais.» A notícia veio na NS deste sábado e deveria ser motivo de celebração por todos os açorianos. Pelo menos aqui, a paisagem foi, de facto, sacralizada.

«O Arquitecto partiu das premissas de "preservar a ruína, recuperar paisagisticamente a zona, sacralizar a imagem resultante e proporcionar a compreensão de todas as fases, desde a construção do farol até aos dias de hoje. Para tal, enterrou os novos edifícios, exaltou a paisagem e propôs uma ideia de centro em que o visitante é convidado a realizar experiências vivenciais», lê-se ainda no mesmo artigo, sob o título «Sacralizar a paisagem».

O Centro de Interpretação do Vulcão dos Capelinhos, majestoso na estrutura e nos milhões de euros consumidos, é sem dúvida um investimento ad eternum na preservação do nosso património cultural e paisagístico.

segunda-feira, 16 de março de 2009

A beleza da Horta, vista por Daniel de Sá

Crédito da foto: LBulcao

Porque há comentários que merecem ser posts e posts que nos mostram que os sonhos são sempre possíveis, transcrevo aqui a prenda que o escritor micaelense Daniel de Sá deixou n'A ilha dentro de mim.
«A Horta foi ela mesma e outros mundos. Nasceu portuguesa e flamenga, da imaginação e da vontade de Josse van Hurtere, senhor do Faial por mercê do infante D. Fernando. Foi porto de paragem e aguada para os navios da América, descanso de marinheiros que andavam à ventura e desventura dos sete mares, repouso de missionários que iam para o Brasil ganhar o Céu para as suas e outras almas. Ligou pelo telégrafo as duas margens do Atlântico, abasteceu de carvão os barcos a vapor, estreou o correio aéreo trazido num avião da Pan American que amarou na sua baía. Acolhe a maior parte dos veleiros que percorrem estas velhas rotas e recebe no Café Sport – o “Peter” – os seus tripulantes, que fazem do cais da marina um enorme painel onde deixam pintado o registo da sua passagem. É na cidade da Horta que está o parlamento açoriano e que vive quase metade dos quinze mil e quinhentos habitantes da ilha, que falam talvez o mais belo português de Portugal, apesar de terem sido flamengos muitos dos primeiros povoadores. O Faial é o vértice de um triângulo que se completa com o Pico e São Jorge. Uma beleza alucinante a que ninguém fica insensível.»
Daniel de Sá, in "Açores", edição Everest

sexta-feira, 13 de março de 2009

A grandeza de Angra, vista por Daniel de Sá


Para quem duvida do amor de um ilhéu por qualquer outro pedaço de terra que não a dele, é obrigatório ler o texto do escritor Daniel de Sá sobre Angra, no seu recém-nascido Espólio. Nunca um micaelense leu tão bem a alma terceirense...

quinta-feira, 12 de março de 2009

Manhã negra para o jornalismo

Hoje o dia amanheceu negro para o jornalismo e para muitos companheiros de jornada. Morreu o jornalista João Mesquita, depois de uma luta inglória contra o cancro. Ex-presidente do Sindicato dos Jornalistas e jornalista fundador do Público, passou também pela extinta A Capital, entre muitos outros órgãos de comunicação social. Tinha 51 anos e por onde passou deixou marcas que vão perdurar para sempre.

quarta-feira, 11 de março de 2009

O sentido dos poetas


Estou farta de ouvir falar sobre o que o Alegre político disse ou vai dizer. Prefiro, de longe, falar sobre o que o Alegre poeta escreveu ou anda a escrever. Porque os poetas fazem muito mais sentido do que os políticos.

"Ninguém pode cercar um homem
pelo lado mais puro da sua
alma".
Manuel Alegre, in Che

terça-feira, 10 de março de 2009

Nova Dinastia nas rádios nacionais










A música açoriana já não é feita só de chamarritas e sapateias. Cada vez há mais jovens que ousam ir além das bandas filarmónicas e grupos folclóricos, partindo à conquista de outros sons, menos tradicionais e mais ousados. Prova disso são os Nova Dinastia, uma banda oriunda da Madalena do Pico que acaba de se lançar à conquista do País. O seu álbum de estreia "Como se não houvesse amanhã" vai ser editado a nível nacional e o primeiro single, "Verão Frio", chega às rádios este mês. Um som jovem, com a irreverência da Montanha. Uma banda a ter debaixo de olho.

domingo, 8 de março de 2009

Farrapos do Ultramar

Ver a Guiné nos telejornais, reavivou-me as palavras do meu pai. "Como não quero deixar este mundo com isto escondido, sinto a satisfação do dever cumprido, aliviando um fardo que carrego há uns 35 anos", escreveu ele no livro Guiné - A cobardia ali não tinha lugar. Não estranho por isso que o documentário “Guerra”, de Joaquim Furtado, tenha dado a muitos ex-combatentes vontade de começar a falar sobre a vida que sofreram e fizeram sofrer no Ultramar.

Ainda há muito por dizer sobre o que tememos que tenha ficado calado. E não tenhamos ilusões: nesta guerra, os nossos homens não foram diferentes de outros. Humilharam e foram humilhados, mataram e morreram, foram vítimas e carrascos, humanos e desumanos. Foram simplesmente homens. Que depois se tornaram farrapos, pedaços de vidas incompletas e nunca plenamente vividas.

sexta-feira, 6 de março de 2009

Mantos negros pela Fajã do Calhau


Durante esta manhã veio-me à memória uma conhecida canção açoriana. "Vestida com mantos negros, pensa que o céu é de prata e o coração imenso. Vestida com mantos negros..." Pois é assim, "Vestida com mantos negros", que se encontra esta minha ilha neste segundo dia de luto pela Fajã do Calhau.

Divulgar os crimes ambientais que se cometem nos Açores é um dever de todos nós, independendentemente do local onde nascemos ou vivemos. Não podemos esquecer que o ambiente é a nossa fonte de vida, a nossa montra neste planeta, o nosso património e, sobretudo, o nosso legado às gerações futuras.

A manifestação que ontem arrancou na blogosfera açoriana (ver Fiat Lux, In Concreto Foguetabraze, Ilhas, Forum Ilha das Flores, Basalto Negro, Política Dura, entre muitos outros), fez-me crer que afinal ainda podemos ter esperança nos laços de sangue ilhéus. Porque todas as ilhas devem gritar quando uma sangra. É urgente que o nosso "coração imenso" ultrapasse históricos bairrismos e velhos partidarismos e fale a uma só voz. Sob pena de aquele verde não voltar a crescer.

quinta-feira, 5 de março de 2009

De luto pela Fajã do Calhau



Porque há atentados que são piores do que bombas, porque há ambientes que mereciam ser preservados, porque há decisões que mereciam ser repensadas, porque há vozes que deviam ser ouvidas, porque há dias em que temos de agir, também esta ilha adere ao DIA F pela destruição ambiental da Faja do Calhau, uma iniciativa lançada pelo blogue Fiat Luz. Perceba os outros porquês aqui e aqui.

quarta-feira, 4 de março de 2009

Em frente ao espelho













Sinto-me nua diante do espelho.
Vejo, mas não reconheço
a mulher que me olha com
espanto e estranheza.
Como se as rugas de expressão
pertencessem a outro rosto,
a outra vida, a outro sofrimento.

Reparo nos contornos do rosto
que sempre olhei com
a ligeireza das coisas fugazes.
Olho os vincos do tempo e percebo.
Décadas são apenas folhas caídas
do calendário colado na porta do frigorífico.
Lídia Bulcão

Epitáfio a um par de óculos

Quase nunca dei por isso, mas nos últimos vinte anos eles estiveram sempre lá. Não escrevi uma linha, não li uma frase, não alinhavei um só texto sem a sua ajuda. Se não fossem eles, nada teria feito com as palavras e o mundo das letras seria ainda uma miragem fora do meu alcance. Graças a eles, desbravei mundos e universos, entrei em dramas e romances, vivi amores e desamores, conquistei momentos perfeitos e inesquecíveis. Com eles, vi mais além e fui aonde me era interdito. Mas só agora, que os arrumo para sempre naquela pequena caixa preta, percebo isso. Na hora da despedida, resta a certeza de que guardarei para sempre as memórias que me ajudaram a trilhar.

domingo, 1 de março de 2009

Reaprendendo a ver

Por estes dias, ando a ver o mundo com olhos novos. Depois de uma pequena cirurgia, reaprendo rotinas, arrumo velhos hábitos e, sobretudo, reparo nos pequenos pormenores como se os estivesse a ver pela primeira vez. Vinte anos depois de ter começado a usar óculos, voltei a ver sem precisar de qualquer acessório. Estou a viver na pele o meu milagre da ciência moderna...