quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Que Neptuno olhe pelas mulheres da Cofaco, porque o Governo Regional deve andar a dormir


O que há muito se dizia à boca pequena que havia de acontecer, passou hoje a ser realidade. Depois de anos de negociações, apoios governamentais e outros que tais, a Cofaco assumiu finalmente que vai fazer o que sempre quis: deslocalizar os postos de trabalho do Faial para o Pico. As dezenas de mulheres que há décadas laboram na fábrica do Pasteleiro passarão agora a ter de atravessar diariamente o canal para não perderem o seu sustento. A travessia seria fácil se fosse sempre mar de Verão, mas todos sabemos que as agruras do mar de Inverno - as mesmas que nas últimas semanas têm feito a vida negra à construção da nova bacia do Porto da Horta - também não vão poupar estas mulheres. Resta-me desejar que Neptuno vá com elas, porque o Governo Regional dos Açores, esse, deve andar a dormir...

Foto recebida pela Internet/Autor desconhecido

10 comentários:

Fiat Lux disse...

É uma violência inaceitável.
(Eu sei bem o que isso é).
Obrigar operárias que têm, certamente, salários miseráveis,a um sacríficio destes é desumano.
Imagine-se uma pessoa que se dá mal no mar. Como é que vai trabalhar depois de uma viagem de enjoo?

C. disse...

A Cofaco não é do Governo|
E, de duas, uma: ou se quer que a sociedade funcione, sem a intervenção, em tudo, do Governo, ou exigimos que se socialize (no sentido soviético) todo e qualquer sector da actividade, quer das pessoas, quer das instituições.
Temos é de decidir-nos, sob pena de andaramos a criticar o Governo por intervir... e por não intervir.

Carlos Faria disse...

ao geocrusoe
Efectivamente não se pode desligar esta situação da sua componente desumana devido às características do mar no inverno a que se associará alguma desorganização no modo de viver destas famílias.
Embora neste momento já existam pontualmente faialenses e picoenses a trabalhar há anos na ilha que lhe fica em frente.
Mas cuidado, o governo pode ter sido algo dorminhoco, mas muitos faialenses, sobretudo a Câmara, andaram com um sono profundíssimo.
Já há muitos que se grita que o Faial está a sofrer um desinvestimento, que a Câmara deve ser o motor do desenvolvimento para contrariar essa tendência, olhando para a economia de uma forma diferente.
Muitos não ouviram estas vozes e os efeitos são cada vez mais evidentes.
Pena que neste caso sejam pobres a pagar alto por autarcas que não salvaguardam os interesses desta terra.

og disse...

Permitam-me uma pequena observação (picoense) em relação à travessia do canal. Em relação ao assunto da deslocalização nada tenho a comentar porque não estou a par do assunto. Mas não deixo de estranhar as posições de horror em relação à travessia. Desde há muito que pessoas do Pico trabalham no Faial e vivem no Pico, fazem essa travessia. Qual é o problema? Como disse, não sei que razões estão por detrás desta decisão, mas ouvi na TSF o administrador garantir que a viagem, e o alojamento no pico em caso de mau tempo, serão pagos às funcionárias, aliás, acho mesmo que a lei o obriga nestas situações. Tendo em conta os tempos que correm, continuar a ter o emprego já não é nada mau.

Anónimo disse...

A ideia é sacar mais algum ao Governo Regional.
E, este parece estar aberto a todo o tipo de demagogia, em nome do " socialismo ".
Já alguém se perguntou quanto perde a Fábrica de S. Jorge ???

Anónimo disse...

Vamos deixar-nos de demagogias.
A COFACO, diz que paga os transportes e o alojamento, porque a isso é obrigada por Lei.Se por acaso as trabalhadoras não quiserem ir vão para o desemprego e a COFACO, limpa as mãos.
Digo-vos que não sou socialista, mas sejamos humanos.Isto é sério???
É humano ? Estas pobres que recebem vencimentos abaixo do ordenado mínimo do Continente trabalham nesta ind´stria porque infelizmente não têem mais nada por onde ganhar a vida.
Depois de todos os millhões que a COFACO e as suas empresas, sacaram ao Estado Português, pelas minhas contas cerca de 70 milhões de Euros para modernizar e construir novas fábricas nos Açores,Madeira ( que já fechou ) e Continente que já vendeu.
E ninguém pára isto?????????????
De realçar que estes " investimentos " foram feitos pelos antigos donos e não pelos actuais, que já devem estar mais que arrependidos.
Mas o sinistro "ENGº" Tavares ainda lá continua.

A ilha dentro de mim disse...

Bem, os comentários são tantos, que nem sei por onde comecar. Vamos por partes.

Ao Fiat,
Não podia concordar mais.

Ao C.,
Porque temos de optar por uma ou outra? Quando a sociedade e a economia não conseguem desenrascar-se a solo, não será o meio termo o caminho do bom senso? Podemos regular sem controlar. A meu ver, esse é o caminho do equilíbrio. Neste caso em concreto, o Governo regional tem dado apoios financeiros à empresa, logo tem de fiscalizar para que serve esse dinheiro e não deixar que tudo se faça como se não houvesse contas a prestar.

Ao Geocrusoe,
Acho que o modo de vida das famílias em causa não tem nada a ver com o assunto. Os faialenses e picoenses que trabalham há anos na ilha que em frente ponderaram os seus prós e contras antes de aceitar o emprego e assinar o contrato. Não é o caso destas trabalhadoras, todas no quadro e a quem nunca passou pela cabeça ir trabalhar para o Pico ao fim de décadas de casa. A elas não foi apresentada qualquer alternativa que não o desemprego, para onde seguiram as restantes colegas contratadas.
No que toca à autarquia local, concordo que não tem sido, de facto, motor de investimento no concelho. Mas neste caso referia-me ao sono de quem pagou apoios e não exigiu as devidas contrapartidas. Ou pediu, mas não quer exigir o seu cumprimento...

A ilha dentro de mim disse...

Ao OG,
O problema não é a travessia de vez em quando, mas numa base diária com más condições. Convenhamos que não é fácil e quem o faz actualmente (seja num sentido ou no outro) tem geralmente compreensão da parte do empregador nos casos de mau tempo.
Neste caso, a Cofaco garante o alojamento no Pico se não passar lancha, mas não garante a justificação da falta à trabalhadora se a lancha não sair do Faial de manhã por causa do mau tempo ou a trabalhadora tiver pânico de embarcar com o mar bravo.
É verdade que os tempos não estão fáceis, mas não podemos deixar que tudo se faça em nome da crise, senão qualquer dia pagamos para trabalhar...


Ao Anónimo das 5H29,
Pelos vistos, não está assim tão aberto, senão teria impedido este imbróglio. Qto à fábrica de S. Jorge, não faço ideia, mas se tiver dados terei todo o gosto em conhecê-los...

Ao Anónimo das 5h45,
Efectivamente o passado da empresa não abona nada a favor...

Carlos Faria disse...

Julgo que não percebeste a minha frase "devido às características do mar no inverno a que se associará alguma desorganização no modo de viver destas famílias"
Estou a falar de efeitos, esta solução, de que as trabalhadoras não têm escolha, pois se não aceitarem não têm subsídios de desemprego, obriga-as a enfrentar o mar e a uma reorganização familiar que não estava programada.
Se percebeste e não vês nisso um problema, então discordamos profundamente, pois esta gente programou e a sua vida depois é forçada a mudar sem alternativa.
O caso dos que trabalham na ilha em frente, acontece em ambos os sentidos, foram colocadas exactamente para se ver a diferença de uns e outros como já referiste noutra resposta

A ilha dentro de mim disse...

Ao Geocrusoe,
Efectivamente tinha percebido mal a tua frase. Quando falaste em "alguma desorganização no modo de viver destas famílias" pensei (com estranheza, confesso...) que estavas a fazer juízos de valor sobre a vida desta gente, como já ouvi muitos outros fazerem. Não sendo assim, concordo perfeitamente com a tua explicação, que vai de encontro à minha. :)