sexta-feira, 20 de novembro de 2009

O que diz isto da imprensa faialense?

Processo judicicial opõe jornalista a Assembleia Regional. Leia-se Rui Gonçalves, director do jornal Incentivo, é o primeiro jornalista processado pela Assembleia Regional dos Açores. Confesso que a notícia da Lusa não me surpreende. Não li o artigo em questão, nem quero aqui julgar o jornalista Rui Gonçalves (isso cabe ao Tribunal), mas por outros artigos que tenho lido nos jornais faialenses nos últimos meses (de profissionais do jornalismo, mas não só), era fácil perceber que mais tarde ou mais cedo os processos iam começar. No Faial há quem pense que a imprensa local é uma espécie de parlamento e que os seus jornalistas (ou colunistas) têm uma espécie de imunidade parlamentar. Os jornalistas são, e devem ser, livres de contar o que vêm e enquadrar devidamente os factos, respeitando a fronteira entre a reportagem e a opinião (muito ténue e facilmente ultrapassada). Sempre defendi que as opiniões dos jornalistas devem ser deixadas para as crónicas e colunas de opinião, mas mesmo aí há limites para o que se diz. E isto não se aplica só aos jornalistas, mas também a políticos e outros colunistas. Os artigos de opinião de qualquer jornal são espaços de liberdade, mas a liberdade individual acaba onde começa a liberdade dos outros. A imprensa não pode, nem deve ser, palco de insultos e difamações gratuitas. Não ajuda a esclarecer e só contribui para o desencanto dos cidadãos. Os leitores merecem mais respeito do que isso.

9 comentários:

Carlos Faria disse...

Compreendo o que dizes e não utilizo o tipo de vocabulário do editorial em questão, mas também não tenho complexo em dizer que neste processo em concreto aceitei ser testemunha de defesa de Rui Gonçalves...

Anónimo disse...

A imposição da auto-censura é um dos piores ataques à liberdade de expressão.

A ilha dentro de mim disse...

Geocrusoe,
Tal como disse, não li o editorial em questão. Este desabafo veio apenas na sequência. Aliás, confesso que até já debati o tema das "fronteiras ténues" com o proprio Rui, ainda muito antes deste editorial.
Se neste processo em concreto é defesa da honra ou uma pequena "vendetta" por outras peças anteriores, só poderá dizer a juiz (e quiçá quem o leu). Enfim, a ver vamos no que vai dar!

Caro Anónimo,
Não estou a falar de auto-censura, mas de respeito, seja pelos valores da ética jornalística, seja pelo leitor. Um jornal não é um blogue e muito menos um chat. Tem direitos, mas também tem deveres. Acusar e difamar alguém é muito fácil de fazer. Mais difícil é limpar o nome quando se prova que as acusações não são verdade.

Souto Gonçalves disse...

«No Faial há quem pense que a imprensa local é uma espécie de parlamento e que os seus jornalistas (ou colunistas) têm uma espécie de imunidade parlamentar». Quem serão estes que pensam assim? Mas o problema não é a imunidade que os jornalistas (não) têm, como se vê pelo simples facto de o processo estar a correr em tribunal. O que não faz sentido é a imunidade parlamentar!

Anónimo disse...

Cara ex-colega: já percebi que não leste o Editorial em questão. Sabes, pelo menos, de que é que se trata?
Rui Gonçalves, aguido.

A ilha dentro de mim disse...

Caro Souto,

Basta ler os jornais locais para perceber quem assim pensa (ou pelo menos dá isso a entender pelo que escreve). Sei que nem os jornalistas nem alguns colunistas tem imunidade parlamentar, mas por nunca ter havido processos tende-se a esquecer isso. Alguns colunistas porventura nem saberão que não são os únicos responsáveis pelo que escrevem e que se forem processados arrastam o director do órgão com eles. Estarei errada?
Quanto à imunidade parlamentar, tens toda a razão. Se não existisse seria tudo mais transparente.

Caro Rui,
Não li de facto o editorial, porque infelizmente não tenho acesso ao Incentivo no continente. (Sim, tenho de resolver essa falha...) Sei apenas o que saiu na imprensa e o que me contaram a propósito. Mas sabes bem que este meu comentário não veio só na sequência do teu editorial, cujo conteúdo fiz questão de nem comentar. É apenas uma análise "apolítica", que não versa aqui defender qualquer partido ou corporação profissional.
Saudações do Tejo,
LB

Souto Gonçalves disse...

Lídia,
Eu ia propor-te debatermos a questão da imunidade parlamentar (que por ser parlamentar não abrange os jornalistas, como é óbvio), mas vejo que comungas da minha perspectiva... Folgo com isso!

Anónimo disse...

O jornalista Rui Gonçalves é acima de tudo um cidadão, como tal não poderá ser alvo de um processo levantado por uma Assembleia que se diz ser representante dos açorianos. É um contra-senso. Rui Gonçalves está a ser acusado por um orgão democrático que também o representa e que quer limitar a liberdade de expressão. Rui Gonçalves não tem de ser acusado de nada, mas a justiça não deveria sequer ter admitido essa queixa. Algo está errado em tudo isto. Esperemos que o Incentivo não seja o último jornal impresso do Faial. Talvez haja quem queira vê-lo extinto. Já no século XIX se assistiu a isto com as tristes atitudes da nossa sociedade a censurarem o Advogado João Graça.

Anónimo disse...

Sejamos sinceros e corerentes!O artigo em causa, não só peca por falta de factualidade, como por excesso de linguagem e falsas acusações.Por isso a sentença foi o que devia ter sido.Mas sem duvida que concordo que o nosso jornalismo faialense presta determinadas vassalagens, especialmente o incentivo ao PSD e, digo isto sem ter ligação e preferência alguma aos diferentes partidos.